Descrição de chapéu México

ONG acusa patrulha de fronteira de sabotar ajuda a migrantes nos EUA

Crédito: Russell Contreras - 6.jan.2016/Associated Press Camionete passa pela região de cerca entre Santa Teresa, no Novo México, e Jerónimo, em Chihuahua
Camionete passa pela região de cerca entre Santa Teresa, no Novo México, e Jerónimo, em Chihuahua

AMY B. WANG
DO "WASHINGTON POST"

Na última semana, um grupo sem fins lucrativos que oferece ajuda humanitária a migrantes no deserto do Arizona divulgou um extenso relatório afirmando que agentes da Patrulha de Fronteiras estavam destruindo intencionalmente suprimentos deixados para migrantes no deserto, segundo o grupo, para "condenar os que cruzam a fronteira as sofrimento, morte e desaparecimento".

O que recebeu mais atenção, porém, foi um vídeo que o grupo No More Deaths [Chega de mortes], sediado em Tucson, no Arizona, distribuiu com seu relatório na quarta-feira (17).

A gravação, feita entre 2010 e 2017, mostra agentes da Patrulha de Fronteiras chutando vasilhames com água que foram deixados no deserto. Em um clipe, um agente zomba da pessoa que o está filmando e pergunta para que é a água, enquanto despeja no chão um garrafão de quase 4 litros de água.

Agora o grupo de ajuda está chamando de suspeita a prisão de um de seus voluntários. No dia 17, agentes da Patrulha de Fronteiras detiveram Scott Warren, 35, no deserto perto de Ajo, no Estado do Arizona, cerca de oito horas depois que foram divulgados o relatório e o vídeo da No More Deaths.

Warren, um antigo voluntário no grupo e professor associado na Universidade Estadual do Arizona (ASU, na sigla em inglês), foi detido sob acusações preliminares de tráfico de pessoas; ele depôs no tribunal na quinta-feira (18) e foi libertado sob fiança, disse o grupo em um comunicado.

Agentes da Patrulha de Fronteiras também detiveram duas pessoas que estavam com Warren na quarta-feira e "recebiam ajuda humanitária" no momento, segundo a No More Deaths. Essas duas pessoas ficaram sob custódia, segundo o grupo.

Alicia Dinsmore, uma voluntária da organização, disse a "The Washington Post" que o grupo achou "suspeito" que agentes da Patrulha de Fronteiras prendessem um antigo e conhecido voluntário no mesmo dia em que o grupo divulgou o vídeo criticando a agência.

"Acho que o momento é suspeito", disse Dinsmore. "Não posso falar sobre o conhecimento da Patrulha de Fronteiras."

Um porta-voz da entidade negou que a agência tivesse visado o grupo de ajuda por causa do vídeo. "Não é retaliação", disse Carlos Diaz, um porta-voz da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA, ao "Washington Post".

"Estamos protegendo as leis de imigração na área, e houve uma situação em que precisamos fazer a prisão porque havia alguns indivíduos ilegais nessa área."

INSPEÇÃO

Agentes da Patrulha de Fronteiras estavam realizando vigilância em um prédio em Ajo conhecido como "Celeiro" no dia 17, quando localizaram dois imigrantes sem documentos que entravam, segundo uma queixa apresentada contra Warren no Tribunal Distrital dos EUA no Arizona.

Os dois naturais do México, identificados como Kristian Pérez Villanueva e José Arnaldo Sacaria Goday, disseram aos agentes da patrulha que procuraram na internet "os melhores meios e métodos de atravessar a fronteira ilegalmente antes de cruzar" e descobriram que o Celeiro era um lugar onde poderiam conseguir comida e água, afirmou a denúncia.

"Depois de chegarem ao Celeiro, Warren encontrou-se com eles do lado de fora e lhes deu comida e água durante aproximadamente três dias", afirmou a denúncia. "Sacaria disse que Warren cuidou deles no Celeiro, dando-lhes comida, água, camas e roupas limpas."

Procurado pela reportagem, o advogado de Warren, William Walker, não foi encontrado na terça-feira (23). Ele disse ao jornal "The Arizona Republic" que Warren tentava salvar vidas no Celeiro, e não agir criminosamente.

"Nós não os contrabandeamos. Não fazemos nada para ajudá-los a entrar nos EUA. Não fazemos nada ilegal", disse Warren ao jornal.

"Este lugar que eles invadiram não fica no meio do deserto. Não está escondido em algum lugar. Fica na cidade de Ajo, e é usado há muito tempo, não para ajudar o tráfico de pessoas, mas para dar assistência médica, comida e água."

AJUDA

Um punhado de grupos de ajuda deixa regularmente água, alimentos e suprimentos no deserto no sul do Arizona para migrantes que tentam atravessar do México para os EUA. Seu objetivo, segundo eles, é evitar que as pessoas morram ao cruzar um terreno inclemente.

A No More Deaths, que também atende pelo nome em espanhol de No Más Muertes, entrou em operação em 2004 e, embora o número de seus membros varie, tem de 70 a 100 voluntários durante os meses de pico, segundo Dinsmore. Warren começou a trabalhar com o grupo em 2013, acrescentou ela.

A ASU confirmou na terça-feira que Warren é um professor na escola e que dá o curso online chamado "Mudança Global", sobre a mudança climática e seus efeitos no planeta.

"O senhor Warren não estava atuando como funcionário da ASU no momento do suposto incidente e não temos motivos para acreditar que isso prejudicará sua capacidade de cumprir seus deveres com a universidade", disse a ASU em um comunicado.

Dinsmore disse que não foi a primeira vez que agentes da Patrulha de Fronteiras prenderam seus voluntários enquanto eles ajudavam migrantes. Em 2005, dois voluntários da No More Deaths foram presos e acusados de crimes menores enquanto prestavam ajuda, disse ela. Um juiz federal mais tarde rejeitou as acusações.

O relatório da No More Deaths divulgado no dia 17 foi o segundo de uma série chamada "Os Desaparecidos". Nele, o grupo diz que de 2012 a 2015 encontrou mais de 3.586 galões de água destruídos em uma área desértica de 2.000 km_2_ no sul do Arizona.

O vídeo que acompanhava o relatório desde então conseguiu milhões de visitas no Facebook e outros canais de mídia.

No relatório, o grupo chamou a destruição sistemática de suprimentos destinados à sobrevivência dos migrantes de uma "cultura da desumanização" do órgão de Alfândega e Proteção de Fronteiras.

"Centenas de atos de vandalismo não podem ser descartados como mau comportamento de algumas maçãs podres", afirmou o relatório. "Depois de extensa análise, concluímos que a cultura e as políticas da Patrulha de Fronteiras dos EUA como órgão de policiamento autoriza e normatiza atos de crueldade contra os que cruzam a fronteira."

Tradução de LUIZ ROBERTO MENDES GONÇALVES

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