Rafael Eldad: Relembrar para um amanhã melhor
O Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, estabelecido em 27 de janeiro, é uma homenagem às suas vítimas e à lembrança do genocídio que resultou na aniquilação de mais de 6 milhões de judeus pelo regime nazista.
A data, criada por resolução da Assembleia-Geral da ONU, foi escolhida por marcar o aniversário de libertação do campo de extermínio Auschwitz-Birkenau, o maior do terror nazista, onde mais de 1,5 milhão de seres humanos foram dizimados.
Nosso papel, junto com a comunidade internacional, é garantir que atrocidades como essa não se repitam. O Holocausto deve sempre nos lembrar o que um regime extremo, baseado no ódio ao próximo, pode fazer e causar.
No fim da barbárie nazista, havia 11 milhões de judeus no mundo. Antes disso, eram quase 18 milhões. Mesmo com um ritmo muito lento de crescimento natural da população, deveria haver hoje cerca de 30 milhões de judeus no mundo. No entanto, há apenas 13,5 milhões. Isso mostra que o povo judeu ainda não pôde se recuperar da tragédia.
Nessa data, honramos a memória dos mais de 6 milhões de pessoas inocentes: homens, mulheres, idosos e mais de 1 milhão de crianças, cuja única culpa era a de terem nascido judeus. Mas também rejeitamos a negação do Holocausto e condenamos a discriminação e a violência embasadas na religião, etnia ou qualquer ato de violência por puro preconceito.
O compromisso de conservar a memória dessas atrocidades não é uma tarefa somente do povo judeu, mas também é tarefa indispensável a todo ser humano.
Ainda hoje, infelizmente, enfrentamos mais manifestações sutis de ódio aos judeus, não menos perigosas, como o antissemitismo disfarçado de antissionismo e a mais nova forma: um movimento para negar o direito do povo judeu de ter o próprio Estado soberano.
Veridiana Scarpelli/Folhapress | ||
Mas no Estado de Israel, mesmo após o Holocausto, conseguimos o que quase nenhum povo conseguiu em tão pouco tempo: resgatar nossa identidade e história, criar um Estado democrático, levantar uma nação.
Conseguimos tudo isso, mesmo não tendo nem um dia de paz verdadeira em nossa região. Tivemos que investir na manutenção de nossa segurança e na defesa de nossa existência e soberania contra inimigos hostis.
Israel será sempre grato a vários brasileiros, por terem salvo judeus durante o regime nazista. No Museu do Holocausto, em Jerusalém, duas árvores simbolizam dois "justos" brasileiros, reconhecidos por Israel como não judeus que ajudaram a salvar os perseguidos durante o Holocausto: o embaixador na França entre 1922 e 1943, Luis Martins de Souza Dantas, e Aracy de Carvalho, funcionária do consulado brasileiro de Hamburgo, na Alemanha, no fim da década de 1930.
Sentimo-nos honrados em poder relembrar nossos irmãos na cerimônia desta semana, em Brasília, capital de um país de diversidade cultural, étnica e religiosa, assim como Israel. Como disse o poeta brasileiro Mário Quintana: "O passado não reconhece o seu lugar; está sempre presente". Devemos relembrar o passado, devemos relembrar o Holocausto, pois somente assim o mundo evitará cometer os mesmos erros no futuro. Uma importante lição é nunca esquecer, sempre lembrar.
Espero que o mundo aprenda a lição e lute, tanto em palavras quanto em ações, contra o novo antissemitismo. O dia 27 de janeiro deve ser lembrado como uma data de união de todos os povos ao redor do mundo em busca de um amanhã melhor.
RAFAEL ELDAD é embaixador de Israel no Brasil desde setembro de 2011. Exerceu o cargo no Peru, na Argentina e no Paraguai
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