Editorial: Enchente de prejuízos
Se fora da temporada de chuvas a cidade de São Paulo já maltrata sua população com as graves falhas de infraestrutura, a situação aproxima-se do colapso nos meses de verão, quando temporais se tornam mais e mais rotineiros. Até 1970, chuvas de 80 mm num só dia eram raras, na média uma por década; de 2001 a 2010, foram nove.
O dano vai muito além do desconforto pessoal. Toda a sociedade perde, inclusive no aspecto econômico: enchentes e alagamentos causam prejuízo de mais de R$ 792 milhões por ano, calcula estudo da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP que considerou perdas de empresas diretamente afetadas e seus reflexos em várias cadeias de produção.
Não são só os humores da natureza que infligem prejuízo e pavor ao cidadão. Tão ou mais ameaçadores, poderes humanos se associam aos meteorológicos para criar a "tempestade urbana perfeita".
Sucessivos governos fracassaram em debelar problemas recorrentes, como garantir que semáforos funcionem sob chuva; que o asfalto não seja tragado por crateras; que as galerias pluviais não desabem sob as águas; que o transporte não sofra panes seguidas; e que as ruas não se convertam em rios.
Uma vez passada a estação de chuvas, os governantes parecem à vontade para limitar-se às providências paliativas, acenar com novas obras --e esquecer o assunto.
Ainda é cedo para saber se o prefeito Fernando Haddad (PT) será mais um a alimentar esse ciclo de inoperância. Com menos de três meses na prefeitura, não pode ser responsabilizado pelo que se fez ou se deixou de fazer no passado.
Deve-se, porém, registrar um sentimento de decepção pela maneira tíbia com que reagiu. Haddad disse não ter prazo para solucionar o "apagão" de semáforos.
Seus assessores pediram 15 dias não para consertar, mas para obter um diagnóstico sobre uma cratera na avenida República do Líbano. O reparo dos danos, causados por rompimento de galeria pluvial, poderá demorar até seis meses --o máximo admitido por lei municipal para obras emergenciais.
Foi esse, de resto, o tempo que paulistanos tiveram de esperar para a liberação dos viadutos Pompeia e Orlando Murgel, bloqueados por incêndios sob suas estruturas.
No primeiro caso, ardeu um barracão de escola de samba; no segundo, a favela do Moinho, que já havia sido atingida pelas chamas em 2011 --e obviamente deveria ter sido removida do local.
A prefeitura precisa atuar com mais prontidão. Que se criem grupos de resposta rápida a desastres; que se apresentem cronogramas de obras para preveni-los; que a população perceba os esforços para minimizar seu drama cotidiano. Se não reagir, São Paulo se afundará na perda progressiva de qualidade de vida e de competitividade.
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