Editorial: Atoleiro na Síria
Dois novos ataques, ontem, deixaram pelo menos 18 mortos na Síria, um dia depois da explosão de que saiu ileso o primeiro-ministro, Wael al Halqi. Agravam-se, em paralelo, os indícios de que tropas do ditador Bashar Assad usaram armas químicas contra os rebeldes.
Aumenta, com isso, a pressão para que o presidente americano, Barack Obama, adote medidas mais fortes para pôr fim à guerra civil no país. O conflito já dura dois anos e provocou 70 mil mortes.
O coro dos que pedem uma intervenção é agora reforçado por destacados senadores republicanos, como John McCain. Para eles, a inação enfraquece a posição dos Estados Unidos diante de nações como o Irã e a Coreia do Norte.
Obama, entretanto, reluta em envolver-se plenamente. Não se pode dizer que não tenha motivos.
Em primeiro lugar, ele exige uma confirmação direta de que o gás sarin foi de fato utilizado. A cautela se justifica tendo em vista o fiasco do Iraque. As armas de destruição em massa, que serviram de pretexto para a invasão do país em 2003, simplesmente não existiam.
Washington não atinou ainda com uma fórmula que lhe permita intervir a um custo militar e político que possa ser considerado aceitável. O exemplo é, de novo, o Iraque, e também o Afeganistão, onde os EUA se envolveram e os resultados, medidos alguns anos depois, deixam muito a desejar.
Ambos os países são assolados por conflitos sectários. Nenhum conta com governos funcionais para irradiar a democracia no Oriente Médio, como prescreviam os defensores das invasões. É pouco provável que Obama caminhe voluntariamente para o que promete tornar-se um novo atoleiro.
Saída possível seria escalar a intervenção indireta já praticada. Os EUA dão dinheiro para os rebeldes e os ajudam a organizar-se. Passos adicionais, como a venda direta de armas e a criação de zonas de exclusão aérea, poderiam ser considerados, em especial se confirmado o uso de gás sarin.
Tempos atrás, Obama disse que armas químicas traçavam uma linha divisória. Se elas fossem usadas, os EUA reagiriam.
Mesmo uma intervenção indireta implicaria dificuldades. Se uma zona de exclusão aérea vier a funcionar, Obama teria de explicar por que não fez isso antes, preservando alguns milhares de vidas.
A verdade é que, sem um consenso claro sobre o que pode e deve ser feito, nem os EUA nem a Europa deverão atuar tão cedo na Síria. E tal consenso não existe hoje.
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