Editorial: Um Irã apaziguador
O novo presidente do Irã, Hasan Rowhani, estará no centro das atenções no encontro anual dos líderes mundiais, que começa hoje, em Nova York, como parte da Assembleia-Geral da ONU.
Rowhani, eleito em junho, diz querer apresentar ao mundo a nova face do Irã, após oito anos de Mahmoud Ahmadinejad --governo marcado pelo isolamento externo e pela crise econômica interna.
O discurso de Rowhani deve reforçar os recentes sinais apaziguadores já enviados por Teerã, inclusive acerca do programa nuclear.
Em recente entrevista a uma TV americana, o presidente iraniano disse que não pretende buscar a bomba atômica e mostrou-se mais afeito a negociações. Numa atitude surpreendente, o aiatolá Ali Khamenei, chefe máximo da teocracia iraniana, recuou de seu tradicional ceticismo acerca da diplomacia e abençoou os gestos de Rowhani.
A retórica de Teerã foi reforçada por medidas práticas, como a libertação de quase cem presos políticos e o convite ao único deputado iraniano judeu para integrar a comitiva na ONU. Esforços sem dúvida dirigidos aos EUA, fiel da balança na questão nuclear e potência antagônica em várias frentes.
Washington vem reagindo com otimismo cauteloso. Barack Obama revelou ter trocado cartas com Rowhani, e a Casa Branca admite que um aperto de mão ou um encontro entre os presidentes é possível.
Mesmo que isso não ocorra, haverá uma reunião internacional sobre o programa nuclear com a presença dos chefes da diplomacia dos dois países --o que por si só configura um divisor de águas.
O caminho da normalização, porém, está repleto de obstáculos.
Pressionado por rivais internos contrários a um acordo, Rowhani precisa da rápida suspensão das sanções. Mas ele deixou claro que não abandonará o enriquecimento de urânio, ainda que em pureza menor que a atual --já abaixo do necessário para produzir bombas.
Obama, por sua vez, precisa do apoio do Congresso --leal a Israel e contrário à teocracia iraniana-- para pôr fim às sanções. Se enfrentará os adversários que o acusam de enfraquecer os EUA, é uma incógnita. É certo, contudo, que um acordo com o Irã teria vantagens imediatas, como louros diplomáticos e mudanças na correlação de forças em torno do conflito na Síria.
A concomitância das Presidências de Rowhani e Obama representa a melhor chance de normalização das relações em quase 35 anos de hostilidades entre Irã e EUA --uma oportunidade que não merece ser desperdiçada.
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