Editorial: Interesses partidos
Se nada mudar no comportamento de seus aliados na Assembleia Legislativa de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) terá dificuldades para sustentar suas declarações sobre o escândalo do cartel em licitações do Metrô e da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) durante sucessivas administrações tucanas no Estado.
Duas semanas atrás, quando o inquérito desse caso foi remetido ao Supremo Tribunal Federal (STF), o governador afirmou que as investigações precisavam ocorrer "rapidamente e em profundidade", para não "colocar o nome de pessoas sérias em dúvida".
Surgiam, na ocasião, suspeitas a respeito de dois secretários de Alckmin. Edson Aparecido (chefe da Casa Civil) e Rodrigo Garcia (Desenvolvimento Econômico) teriam recebido propina, segundo depoimento de um ex-diretor da Siemens, Everton Rheinheimer, que os acusados refutam.
As atitudes erráticas do executivo alimentaram a desconfiança dos tucanos quanto a eventuais motivações eleitorais na denúncia.
Ainda assim, no plano do discurso, Alckmin procurou mostrar-se combativo: "A Justiça é para todos, doa a quem doer". O governador, contudo, preferiu não afastar os dois secretários, a fim de não agir "sem ser de forma justa". E acrescentou: "O que precisamos é investigar, esclarecer rapidamente".
Talvez a noção de celeridade seja diferente no Palácio dos Bandeirantes e na Assembleia Legislativa. Conforme mostrou esta Folha, desde agosto –pouco depois de o caso ter vindo à tona–, apenas três pessoas foram ouvidas pelos deputados estaduais, embora tenham sido apresentadas 38 solicitações, para convocar 26 depoentes.
Sem apoio suficiente para instalar uma CPI sobre o tema, deputados da oposição recorreram a duas comissões –de Transportes e de Infraestrutura– para apresentar tais requerimentos. Dominadas por governistas, ambas adiaram a análise de pedidos, transformaram convocações (compulsórias) em convites (facultativos) e rejeitaram propostas.
Aliados de Alckmin negam blindagem e afirmam que as figuras mais relevantes do caso estavam entre as três ouvidas. Não explicam, todavia, por que seriam desimportantes personagens como o próprio Everton Rheinheimer, ou João Roberto Zaniboni, ex-diretor da CPTM que recebeu US$ 836 mil numa conta na Suíça.
Nada muito diferente do que sempre fizeram todas as bases aliadas, de todos os partidos, quando se trata de proteger os interesses do governo a que dão sustentação.
É consternador que, de tempos em tempos, torne-se necessário relembrar aos políticos algo tão óbvio: os verdadeiros interesses a proteger são os do povo que os elegeu.
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