Cândido Vaccarezza: Em defesa da pesquisa
Para crescer de forma sustentável e reduzir sua dependência externa o Brasil precisa investir no desenvolvimento tecnológico. E sendo o Brasil um dos maiores exportadores agrícolas do mundo, a pesquisa desenvolvida pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) é fundamental para o futuro da nossa economia. A proibição do uso de tecnologia de restrição genética (GURT) por pesquisadores brasileiros, no entanto, impede a descoberta de diversas aplicações de interesse social, econômico e ambiental.
Alguns transgênicos são capazes de reduzir fortemente a necessidade do uso de agrotóxicos, como é o caso da semente de feijão transgênica desenvolvida pela Embrapa resistente ao vírus do mosaico dourado.
A pesquisa com transgênicos no Brasil é responsável, também, pelo desenvolvimento de produtos essenciais para a saúde humana, tais como insulina, vacinas e interferons (importantes substâncias utilizadas no tratamento de câncer e de infecções virais).
O Brasil está desenvolvendo ainda plantas que desempenham um duplo papel: vacinam e alimentam ao mesmo tempo. Os laboratórios da Embrapa estão desenvolvendo uma alface com ácido fólico. O ácido fólico é essencial para a boa formação do feto. Sua ausência é responsável por doenças congênitas gravíssimas e ainda irreversíveis. Todas as grávidas que fazem acompanhamento pré-natal poderão adotar o consumo regular dessa alface para reduzir as chances de má-formação fetal.
Esses são exemplos de plantas biorreatoras que servem para baratear o custo de produção e ampliar o acesso de produtos que hoje são caros e essenciais a pessoas afetadas por diabetes, hemofilia, câncer, AIDS entre outras importantes enfermidades.
Nessas plantas biorreatoras é recomendável o uso de GURT de forma que as mesmas possuam sementes estéreis impedindo a sua disseminação e eventual mistura com sementes convencionais usadas para alimentação humana.
Outro exemplo do emprego da tecnologia GURT é o desenvolvimento de cana-de-açúcar sem florescimento. Estas plantas, pelo fato de não florescerem, acumulam mais sacarose e, desta forma, mais açúcar é produzido por hectare. Ou seja, há aumento de produtividade de cana e seus derivados sem que haja, necessariamente, aumento de área cultivada, preservando a biodiversidade.
A CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) examina caso a caso cada liberação de transgênicos no Brasil em termos técnicos e científicos. No entanto, se um dos transgênicos passar pelo crivo técnico da CTNBio, mas não for do interesse econômico e social para o Brasil, será vetado pelo CNBS, o Conselho Nacional de Biossegurança. Ou seja, podemos vetar a liberação de um dado transgênico se isso colaborar, por exemplo, para a oligopolização do setor de sementes.
Apesar dessas garantias, o Brasil é provavelmente o único país do mundo que proíbe o uso de tecnologia de restrição genética em Lei, o que retarda nosso desempenho na corrida biotecnológica mundial. Por essa razão apresentei proposta que agiliza a pesquisa nacional com transgênicos e retira a proibição total do uso de uma tecnologia importantíssima para a pesquisa agrícola e farmacêutica em laboratórios nacionais e públicos.
CÂNDIDO VACCAREZZA, 58, é deputado federal pelo PT-SP
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