Editorial: Ucrânia dividida
É preocupante a análise de Leonid Kravchuk, primeiro presidente da Ucrânia após a independência da União Soviética, em 1991. De acordo com ele, o acirramento dos conflitos nas últimas semanas deixou seu país na iminência de uma guerra civil.
Tendo por estopim a rejeição presidencial a um acordo de livre-comércio com a União Europeia, os protestos que se repetem na Ucrânia desde novembro se intensificaram neste ano após a tentativa do governo de cercear as liberdades de expressão e reunião. Diversas leis foram baixadas com esse intuito, mas seus efeitos tiveram o sentido contrário do pretendido.
Nesta semana, premido pelas ruas, o governo do presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, anunciou uma série de concessões. Entre elas, a revogação da maioria das leis antiprotesto recém-aprovadas –inclusive a que estabelecia prisão de até 15 anos a quem participasse de atos públicos– e a destituição do primeiro-ministro.
Os centenas de milhares de manifestantes, contudo, almejam mais do que Yanukovich mostra-se disposto a oferecer. Querem a retomada das negociações de um acordo de associação comercial com a União Europeia, anistia incondicional a quem foi preso durante os protestos e a renúncia do próprio presidente, com a consequente antecipação das eleições.
Persiste, portanto, um perigoso impasse na vida política ucraniana. Verifica-se, desde a semana passada, uma escalada de confrontos com as forças policiais; já se registraram pelo menos três mortes, além de centenas de feridos.
São choques que evidenciam as tensões, já latentes há algum tempo, entre segmentos da sociedade que desejam maior aproximação com a Europa e setores que prezam os laços tradicionais com a Rússia.
Questões econômicas de um Estado endividado e em recessão tornam ainda mais difícil a resolução desse conflito de forças. Refém da importação de gás natural e petróleo da Rússia, a Ucrânia fica exposta a pressões exercidas por Moscou. Aproximar-se da União Europeia não é uma decisão isenta de custos, dadas as ameaças feitas pelo governo de Vladimir Putin.
Dificilmente haverá melhor saída para essa crise do que uma solução negociada com a participação de Rússia e União Europeia.
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