Guilherme Casarões: Novas frentes diplomáticas
Há muito mais no mundo desenvolvido do que sugere nossa diplomacia tradicional. Muitos potenciais parceiros do Brasil estão na "periferia do centro": são potências de médio porte e de baixo perfil político, mas com enorme interesse na diplomacia e no multilateralismo. Pequenas em território ou população, possuem importantes semelhanças com o gigante brasileiro. São expoentes em áreas como educação, inovação e defesa.
De questões de segurança internacional às reformas da governança global, passando pela cooperação para o desenvolvimento ou acordos na área de ciência e tecnologia (C&T), o Brasil poderá beneficiar-se de oportunidades oferecidas por países como Suécia, Japão e Nova Zelândia. Embora as interseções com nossas necessidades sejam evidentes, o governo ainda não parece tê-las explorado em sua plenitude.
Tomemos a Suécia como um dos países com quem podemos aprofundar relações. O Brasil escolheu o avião militar Gripen NG para renovar nossa frota aérea, com boas perspectivas de transferência tecnológica. Ciência, tecnologia e inovação –temas em alta no atual governo– são áreas em que Brasil e Suécia já construíram contatos importantes, como aquele entre a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial e a Agência Sueca de Inovação. Ademais, ambos os países têm uma intensa agenda de cooperação para redução da pobreza em regiões menos desenvolvidas do globo.
O mesmo vale para as relações com os demais países escandinavos. A reforma das instituições de governança global e o direito ao desenvolvimento de tecnologia nuclear para fins pacíficos são importantes pautas no relacionamento do Brasil com a Dinamarca. Mudanças climáticas e inovação em áreas que vão da aquicultura à prospecção de petróleo fazem parte da agenda com a Noruega.
No leste da Ásia, Japão e Coreia do Sul abrem possibilidades comerciais e financeiras. O fluxo de investimentos de cada um destes países no Brasil ultrapassou a marca de US$ 1 bilhão em 2012. Donos da terceira economia mundial, os japoneses mantêm conosco, além do comércio bilateral, uma vasta agenda em C&T e iniciativas de cooperação para o desenvolvimento. Há também uma pauta consular de relevo, ligada aos 300 mil decasséguis –brasileiros radicados no Japão.
Os sul-coreanos, embora tímidos nos contatos políticos com o Brasil, poderiam nos servir de inspiração para o modelo de educação e desenvolvimento tecnológico. O Itamaraty já demonstrou interesse em descobrir o segredo do salto educacional da Coreia do Sul.
Em tempos em que os debates sobre a política exterior do Brasil abrem-se em várias frentes, cabe ao país estreitar as parcerias que sirvam à realização de seus objetivos sociais. Não é coincidência que todos os países mencionados estejam na lista dos destinos do programa Ciência sem Fronteiras, com impactos diretos sobre as prioridades internacionais do Brasil.
Mas não podemos deixar de lado as iniciativas de alta política. Devemos retomar propostas como a de coordenação trilateral entre Brasil, Suécia e Turquia relativas a conflitos do Oriente Médio. Ou reforçar a Coalizão da Nova Agenda, grupo de que participamos com Nova Zelândia, destinada a batalhar pelo desarmamento nuclear. Ou revitalizar o G-4, bloco por meio do qual Brasil e Japão desejam empreender a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Somos um país do sul global, mas plenamente integrado ao Ocidente. Temos um parque industrial maduro, mas também sofremos das mazelas sociais que caracterizam as nações em desenvolvimento. Pertencemos à América Latina, mas não nos furtamos de nutrir laços de cooperação e amizade com a África, Ásia ou Oriente Médio. A universalização da política exterior sempre nos serviu de grande ativo diplomático.
Podemos –e mais que isso, devemos– buscar nas relações não tradicionais do mundo desenvolvido oportunidades para a concretização do interesse nacional. O protagonismo brasileiro dependerá, cada vez mais, do sucesso de possíveis parcerias dinâmicas em busca de um mundo mais próspero, pacífico e justo.
GUILHERME CASARÕES, 31, doutorando em ciências políticas pela USP, é professor de relações internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco e da Fundação Getulio Vargas
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