Aldo Malavasi: Nova tecnologia no combate ao mosquito da dengue
O secretário do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, afirmou recentemente que houve um aumento de 30% no valor de R$ 1,2 bilhão liberado para combate à dengue em 2014. A informação eleva a quantia destinada à luta contra a doença para cerca de R$ 1,55 bilhão, um valor de encher (teoricamente) os olhos na luta contra um mal contraído por 50 a 100 milhões de pessoas todos os anos e que mata anualmente 20 mil delas segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).
No Brasil, a situação da dengue é grave como vêm noticiando diariamente jornais, revistas, TVs e rádios. Em 2014 foram registrados, até o dia 31 de maio, mais de 515 mil casos de dengue pelo Ministério da Saúde, e uma epidemia corre solta por diversos municípios do país. A solução proposta pelo governo (mais dinheiro) ajuda, mas não resolve o problema do combate ao mosquito da dengue pois deixa de atacar um ponto fundamental da questão: a principal tecnologia disponível atualmente para combater o Aedes aegypti –o principal vetor da dengue– não funciona.
Usar carros e motos espalhando pesticida pelas ruas (o chamado fumacê) tem se mostrado uma técnica ineficaz como vemos todos os anos com a repetição dos casos de dengue. Uns anos há mais casos, outros, menos, mas a dengue continua lá colocando em risco e atrapalhando a vida de milhares de brasileiros e custando caro ao governo brasileiro que tem de, além de combater o mosquito, alocar milhões em recursos para que os hospitais tratem as pessoas que contraíram a doença. As outras tecnologias atualmente em uso - os programas educativos e a atuação de agentes públicos na limpeza de potenciais focos de larvas do mosquito – tem ajudado na luta porém não se mostram suficientes para resolver o problema.
A chegada de uma nova tecnologia pode ajudar a mudar este cenário. No mês de abril, a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) aprovou uma nova ferramenta para ser utilizada no combate ao mosquito da dengue, um mosquito transgênico. A tecnologia coloca, em insetos, genes que tornam os machos incapazes de produzir descendentes viáveis ao copularem com fêmeas selvagens. Essa técnica é uma evolução da chamada Técnica do Inseto Estéril (TIE) que, há mais de 50 anos, esteriliza insetos machos para controlar ou até eliminar as populações de insetos pragas e é considerada uma das formas mais eficientes de controle de moscas-das-frutas em países como EUA, Portugal, Tailândia, África do Sul e Japão.
No caso da dengue, o macho do Aedes aegypti foi geneticamente modificado para não gerar descendentes viáveis ao copular com fêmeas selvagens. Em testes realizados na Bahia nos bairros das cidades de Juazeiro e Jacobina e nas ilhas Caiman, a tecnologia tem demonstrado ótimos resultados com a supressão de mais de 80% dos Aedes aegypti após a liberação dos machos transgênicos.
O uso desta tecnologia aliado aos programas educativos e limpeza dos focos de larvas é uma potencial solução para o atualmente insolúvel problema de controle do mosquito da dengue. Resta agora colocá-lo em prática em grande escala.
ALDO MALAVASI é presidente da organização social Moscamed e professor titular aposentado do departamento de genética da USP
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