Editorial: Fazer por merecer
Não se pode dizer que este tenha sido um ano particularmente árduo para deputados e senadores. Por causa da Copa do Mundo e das eleições, os parlamentares se concederam generosos dias de folga para que aproveitassem os jogos de futebol ou se dedicassem à conquista de votos.
Apesar do recesso branco, um privilégio ao qual pouquíssimos brasileiros haverão de ter acesso, os congressistas receberam, em todo esse período, a mesma remuneração a que fazem jus quando estão trabalhando normalmente.
Mas eles não estão satisfeitos. Agora que voltarão à labuta regular, articulam-se para aumentar os próprios salários. Desde 2010, cada um dos 513 deputados e 81 senadores percebe R$ 26,7 mil.
Alguns defendem que a remuneração seja equiparada à dos ministros do Supremo Tribunal Federal –teto do funcionalismo–, que poderá chegar a R$ 35,9 mil em 2015. Outros, não se pode chamá-los de comedidos, temendo o desgaste que a iniciativa provocaria perante a opinião pública, sustentam um valor mais modesto.
Parecerá muito, em qualquer caso. Não só por ser este um país ainda muito pobre, no qual o rendimento médio da população ocupada pouco ultrapassa R$ 1.500 mensais, mas também pelos inúmeros benefícios pecuniários que os congressistas acumulam.
Os parlamentares que não ocupam imóveis funcionais, por exemplo, têm direito a R$ 3.800 a título de auxílio-moradia. Recebem, além disso, o chamado cotão, recursos que variam de R$ 21 mil a 44,2 mil por mês para cobrir desembolsos com gasolina, alimentação, aluguel de escritório, passagens aéreas e divulgação do mandato.
As verbas de gabinete dos deputados alcançam R$ 78 mil por mês e destinam-se à contratação de até 25 assessores; no caso dos senadores, estimam-se R$ 82 mil (valores oficias não são declarados) para empregar até 55 funcionários.
Os parlamentares, justiça seja feita, têm razão ao lembrar que estão desde 2010 sem a correção de seus salários. Mas não deveriam se esquecer de que precisam mostrar à sociedade que fazem por merecer os recursos públicos que recebem.
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