Editorial: Esperança da primavera
Pouco tempo depois da eclosão da Primavera Árabe, em dezembro de 2010, estavam frustradas quase todas as esperanças de mudanças políticas e institucionais no mundo muçulmano. Países como Egito, Líbia, Síria, Bahrein e Iêmen afundaram em conflitos civis ou sofreram novos golpes militares.
São auspiciosos, em compensação, os sinais vindos da Tunísia. Berço da revolução, o país realizou, no domingo (26), sua segunda eleição livre após a queda do ditador Ben Ali, no início de 2011.
Dados preliminares apontam a vitória da agremiação secular Nidá Tunísia, com cerca de 37% das 217 cadeiras do Parlamento. Em segundo lugar aparece o partido moderado islâmico Nahda, com aproximadamente 30% dos assentos.
Vencedor do pleito anterior, o grupo muçulmano não abandonou a etiqueta democrática. Logo reconheceu a vitória do adversário e sugeriu a formação de uma coalizão, já que nenhuma legenda obteve maioria parlamentar. As eleições presidenciais estão marcadas para novembro.
O bem-sucedido processo político é mais um passo da Tunísia rumo à consolidação de sua democracia –fato raro no mundo árabe.
O país já havia adotado, no começo deste ano, a Constituição mais progressista da região. A Carta aprovada por quase todos os partidos tunisianos garante os direitos das mulheres, a liberdade de consciência e de religião e proíbe o incitamento à violência.
As razões para tal trajetória "sui generis" talvez possam ser encontradas nas características demográficas da Tunísia. Sem divisões étnicas, religiosas ou tribais, as diferenças políticas e ideológicas que emergiram no pós-primavera não se transformaram em cisões sociais, como no Iraque ou no Egito.
O país de quase 11 milhões de habitantes e PIB de US$ 47 bilhões, no entanto, ainda faz sua travessia, e as dificuldades econômicas constituem obstáculo de monta.
O novo governo terá de superar indicadores que, hoje, estão em patamares piores do que os registrados antes das manifestações, como a taxa de crescimento do PIB de cerca de 2,5% e o índice de desemprego em torno de 15%.
Enfrentar esses desafios será fundamental para que o país complete as últimas etapas de sua transição. Após mostrar ao mundo árabe como era possível escapar da opressão de uma ditadura, talvez a Tunísia possa, mais uma vez, servir de farol para a região.
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