Constantino Karacostas: Fim da exigência de visto para americanos
Quando se verifica o desempenho do turismo brasileiro, é impossível não sobressair o paradoxo: somos um país continental, dotado de recursos naturais diversificados, capazes de encantar viajantes do mundo todo. Temos a Amazônia, o cerrado, as chapadas, os Lençóis Maranhenses e a serra gaúcha. Temos um litoral imenso com diversos climas e culturas. Além da forma simpática e cativante de o brasileiro receber o visitante estrangeiro.
Apesar de toda a riqueza natural e da alegria do povo brasileiro, temos um resultado pífio no turismo. Recebemos apenas 6 milhões de visitantes por ano.
No ranking dos destinos mais visitados em 2013, a França figura em primeiro lugar com 84,7 milhões de visitantes. É seguida por EUA, Espanha (60,7 milhões), China (55,7 milhões), Itália (47,7 milhões), Turquia (37,8 milhões), Alemanha (31,5 milhões), Reino Unido (31,2 milhões) e Rússia (28,4 milhões) e Tailândia (26,5 milhões).
Segundo previsão da Organização Mundial do Turismo, o crescimento da movimentação turística no mundo deve ser entre 4% e 4,5% em 2014 ""esses dados ainda não foram divulgados. Mesmo sob os efeitos de um cenário econômico ruim, o fluxo turístico em território francês deve ficar 2% maior.
O número de chineses que visitam a França aumentou 23,4% em 2013 e o de indianos, 15,7%. Isso deixa evidente que a França leva a sério a política do turismo e cuida do ativo econômico extraordinário que o setor representa.
Diante disso, o momento é oportuno para se questionar a insistência da diplomacia brasileira na política de reciprocidade. As razões evocadas para a exigência de visto de entrada para determinado país não servem para outro. O fato de os EUA manterem a exigência de visto para brasileiros não justifica o procedimento recíproco do Brasil.
Por que criar dificuldade e desestimular a vinda de turistas americanos, que são milhões e também possuem alto poder de compra? Se o turismo impacta direta e indiretamente em 52 segmentos da economia, por que abrir mão de milhares de empregos e divisas preciosas para equilibrar a balança comercial brasileira? Se a exigência de visto de americanos bate de frente com nossos interesses econômicos, haveria, então, motivação de caráter ideológico na manutenção da obrigatoriedade de visto para o Brasil?
As indagações que fazemos levam em conta o contexto da reeleição da presidente Dilma Rousseff, que manifestou preocupação com o fluxo de investidores no país. A seção paulista da Associação Brasileira de Agências de Viagens quer acreditar na abrangência do compromisso de mudança anunciado nos discursos da vitória e de posse da presidente Dilma.
Hoje é comum um turista americano entrar em uma agência de viagens interessado em vir ao Brasil e ouvir do consultor a sugestão de mudar seu destino para Buenos Aires. Isso porque a obtenção do visto brasileiro demora até dez dias. Já a Argentina, embora cobre uma taxa de reciprocidade dos cidadãos americanos, dispensa a obrigatoriedade do visto.
CONSTANTINO KARACOSTAS, 51, é presidente da seção paulista da Associação Brasileira de Agências de Viagens
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