Editorial: Reino da surpresa
Foram dois os vencedores e dois os derrotados na surpreendente eleição para o Parlamento britânico realizada na quinta-feira (6).
Contrariando todas as pesquisas, que sugeriam a disputa mais acirrada desde a Segunda Guerra, o Partido Conservador conquistou 331 das 650 cadeiras da Câmara dos Comuns. Em 2010, a legenda obtivera 307 assentos e só chegou ao poder devido a uma coalização com o Partido Liberal-Democrata.
Desta vez, elegendo a maioria dos parlamentares, o primeiro-ministro David Cameron, líder dos conservadores, não precisará negociar com ninguém para continuar no número 10 da rua Downing Street, em Londres.
O outro grande vencedor foi o Partido Nacional Escocês, que saltou das atuais seis cadeiras para 56. Com sua bandeira separatista, a agremiação triunfou em praticamente todos os distritos escoceses, mostrando que persiste a onda nacionalista, apesar da derrota no plebiscito sobre a independência do país, no ano passado.
Num movimento inverso, o Partido Liberal-Democrata viu diminuir de 57 para oito os seus assentos na Câmara dos Comuns.
Também saiu derrotado o Partido Trabalhista. Suas 232 cadeiras –26 a menos que na última eleição– se traduzem como o pior resultado da legenda em 30 anos.
A ampla vitória dos conservadores demonstra que surtiu efeito a estratégia do partido de polarizar a campanha em torno da recuperação econômica do Reino Unido.
Cameron tinha bons números para exibir. O PIB britânico teve em 2014 crescimento de 2,8%, o maior entre as principais economias; o desemprego está na casa dos 5%.
Os conservadores atribuem os resultados à condução austera das contas públicas que, nos últimos cinco anos, resultou num corte de despesas de cerca de £ 100 bilhões (R$ 450 bilhões). Durante a campanha, o primeiro-ministro afirmou que pretende poupar mais £ 30 bilhões (R$ 135 bilhões) até 2019.
Ao mesmo tempo, terá de enfrentar a queda do padrão de vida dos britânicos. A renda média domiciliar anual teve redução de 2,4% de 2010 a 2014, ficando abaixo dos níveis anteriores à crise de 2008.
Talvez não esteja na economia, no entanto, o principal desafio de David Cameron em seu segundo mandato. Ao celebrar o êxito eleitoral, o premiê confirmou que realizará, provavelmente em 2017, um plebiscito acerca da permanência do Reino Unido na União Europeia.
Seja pela possibilidade do divórcio, seja pelo debate que provocará a respeito de limites para a imigração, a consulta popular tende a se converter no desdobramento mais relevante dessa eleição.
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