opinião
Rosário de Ceita: Semana da África
Há pouco mais de meio século, líderes africanos reuniram-se na cidade de Adis Abeba, na Etiópia, no dia 25 de Maio de 1963, para pôr um fim ao estado de dependência, imposto há séculos, ao continente africano.
Nesse encontro foram lançadas as bases da Organização da Unidade Africana, mais tarde denominada União Africana. Em 1972, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu a importância do dia 25 de Maio, instituindo o Dia da África.
Cinquenta e dois anos se passaram e cá estamos nós, os africanos, a subir uma imensa escadaria, em busca do desenvolvimento: subimos dois degraus e, logo em seguida, descemos um, cautelosamente. Estamos convictos de que, em breve, estaremos em comunhão, atraindo as atenções turísticas do mundo para o cume do kilimanjaro, na Tanzânia, ou para as curvas da Serra da Leba, em Angola.
Aos olhos internacionais, no entanto, temos as cuias nas mãos. Somos a África rendida e abatida pelo ebola ou decapitada pelo Boko Haram. Porém, como bem o demonstrou o secretário executivo da Comissão Econômica da ONU para a África, Carlos Lopes, em recente entrevista à Folha, embora existam 100 milhões de africanos afetados por conflitos, "há 900 milhões de africanos que não o são", lembrou.
Que se voltem, então, os olhos do mundo para essa África, ávida por infra-estrutura, inovação tecnológica, universidades pulsantes e distribuição de aptidões humanas nas cadeias do ciclo produtivo de cada um de seus 54 países.
Este é o fio de prumo a ser alcançado por todos os países africanos. No último Fórum Angolano de Telecomunicações e Tecnologias da Informação 2015, o ex-presidente da União Internacional de Telecomunicações da ONU, Hamadoun Touré, enfatizou que a maior taxa de retorno de investimento no mundo está na África (20 a 30%, segundo o FMI).
"Digam quanto é que estão prontos a investir e não quanto estão prontos a doar", frisou Touré. Nessa mesma sintonia, a comissária para economia rural e agricultura da União Africana, Tumusiime Rhoda Peace, afirmou que é imperativo investir na agricultura e industrialização para acabar com nossos conflitos internos. "Nós não queremos esmolas. Queremos que as comunidades sejam empoderadas e possam produzir para seu sustento", disse Peace.
O fato é que nos últimos anos a África deixou de ser o "continente perdido" para tornar-se "um dos futuros motores do crescimento global", disse recentemente o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe. Países como Angola, Moçambique, Tanzânia, Nigéria, Quênia, Gana, Zâmbia e Etiópia estão a ser denominados os "leões africanos", numa referência aos "tigres asiáticos" que utilizaram estratégias arrojadas para atrair capital estrangeiro.
Nesse contexto, cumpre-nos ressaltar que são muito positivas as relações entre Brasil e Angola, com excelentes resultados nas áreas de agricultura, ciência e tecnologia, educação, gestão pública e energia. Se a palavra de ordem, na África, é diversificar a economia, em Angola, esse objetivo vem sendo buscado exaustivamente.
Em 2016, com investimentos de US$ 160 milhões, o país deverá se tornar um dos principais eixos africanos para distribuição de Internet no mundo, quando deverá entrar em operação o Sistema de Cabo do Atlântico Sul (South Atlantic Cable System - SACS), um cabo submarino de fibra óptica que está sendo construído de Luanda, em Angola, até Fortaleza, no Brasil.
"Eu já não espero, sou aquele por quem se espera", dizia, num verso, o primeiro presidente de Angola, Agostinho Neto, descrevendo com maestria a mística esperança da África.
ROSÁRIO DE CEITA, cônsul geral de Angola no Rio de Janeiro, é jornalista formado na Universidade Internacional de Lisboa
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