Editorial: Inspeção estacionada
No ano passado, em 1 de cada 8 dias a cidade de São Paulo ultrapassou a concentração máxima recomendada de ozônio no ar. Tóxico para humanos, animais e plantas, o poluente formado sobretudo a partir de gases emitidos por veículos é um dos principais indicadores de contaminação atmosférica.
Estudo da ONG Saúde e Sustentabilidade estimou que, em 2011, a poluição do ar no Estado tenha contribuído para mais de 17 mil mortes precoces, a maior parte delas na região metropolitana da capital.
Para diminuir a um nível aceitável a quantidade dessas substâncias danosas, o Plano de Controle de Poluição Veicular 2014-2016 aprovado pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente calcula que seria necessário reduzir em 26% o número de viagens de carro na Grande São Paulo. De 12,6 milhões de deslocamentos diários, haveria que retroceder a 9,3 milhões.
Não vai acontecer, parece evidente. Só em 2014, cerca de 200 mil novos automóveis ganharam as ruas da metrópole. Já são 5,6 milhões de unidades; mesmo que parte dos registros se refira a veículos fora de uso, chega-se a algo como 1 carro a cada 2 habitantes.
Para que a poluição da atmosfera não cresça no mesmo ritmo do aumento da frota, o poder público tem de lançar mão de todas as ferramentas disponíveis.
Ampliar a oferta do transporte público e melhorar sua qualidade é a mais óbvia delas, mas também a mais morosa, numa época de crise em que a capacidade de investimento dos governos é pífia.
Elevar as exigências de qualidade dos combustíveis e de emissões por veículos novos, como já se faz, tem sua importância, mas os ganhos incrementais tendem a ser anulados pelo aumento da frota.
Um dos instrumentos que restam, segundo especialistas, é a inspeção veicular para garantir que motores bem regulados emitam menos compostos tóxicos.
O sistema existente, no entanto, foi "temporariamente" suspenso pelo prefeito Fernando Haddad (PT) em fevereiro de 2014. Ainda não se sabe se e quando voltará.
Sim, havia dúvidas graves sobre o contrato firmado pela gestão Gilberto Kassab (PSD) com a empresa Controlar. Sim, a licitação preparada pelo sucessor petista enfrentou questionamentos na Justiça e no Tribunal de Contas do Município (TCM).
Já passa da hora, entretanto, de o prefeito se empenhar mais em devolver à cidade, com os devidos aperfeiçoamentos, o sistema que sua administração desmantelou.
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