Editorial: Casamento e separação
Enquanto o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) cantava, chorava e fazia piada com o mensalão ao celebrar seu casamento na sexta-feira (29), no interior do Rio, alguns de seus convidados discutiam o fim das negociações sobre a fusão do partido do noivo com o DEM.
As conversas a respeito do enlace até haviam avançado mais do que poderia imaginar quem considerasse somente o passado dessas siglas. Desde que foi criado, em 1945, o Partido Trabalhista Brasileiro esteve em campo político oposto ao do Democratas e seus ancestrais diretos (PFL, PDS, Arena e UDN), todos na esfera liberal.
As divergências históricas, no entanto, não pareciam representar obstáculo intransponível. Tampouco surgia como impedimento grave o fato de o DEM ser um dos maiores críticos da presidente Dilma Rousseff (PT), e o PTB, integrando a base governista, chefiar o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Questões dessa natureza se mostravam pouco relevantes diante de um cálculo pragmático: sacramentada a união, a nova legenda contaria cerca de 45 deputados, o bastante para deixá-la na posição de quarta maior bancada da Câmara (atrás de PT, PMDB e PSDB).
Foi com esses números em mente que o comando nacional do DEM aprovou, em abril, a continuidade das negociações sobre a fusão –um acordo que, no que dependesse das cúpulas partidárias, chegaria a bom termo dentro de poucos meses, a tempo de valer para as eleições municipais de 2016.
Agora, todavia, as tratativas estão suspensas e podem ser dadas como "página virada", segundo disse a esta Folha o secretário-geral do PTB, Campos Machado.
Patrimônio ideológico, herança programática ou posição diante do atual governo, nada disso importou. O que travou o contrato pré-nupcial foi mesmo a partilha do poder e do fundo partidário.
De um lado, o DEM exigia que as decisões da futura legenda fossem tomadas por 60% dos votos da Executiva, o que impediria a pretendida hegemonia do PTB –cuja principal voz continua sendo a de Roberto Jefferson.
De outro, não houve entendimento quanto à divisão dos repasses à nova sigla, que chegariam a uma cifra notável: quase R$ 70 milhões por ano. Campos Machado até brincou: "A culpa é dos fenícios, que inventaram a moeda".
Não só dos fenícios, seria o caso de acrescentar, mas também dos dirigentes que veem nos partidos antes uma oportunidade para tentar fechar negócios do que um meio legítimo de fazer política.
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