Editorial: Passos lentos
Completa-se praticamente uma década desde que o chamado escândalo do mensalão tucano começou a ser investigado.
O esquema de desvio de recursos que, conforme o Ministério Público, alimentou a campanha pela reeleição de Eduardo Azeredo (PSDB), então governador de Minas Gerais, só foi descoberto em 2005, em meio às revelações do mensalão petista –do qual teria sido espécie de ensaio geral.
Dois anos depois, em 2007, o procurador-geral da República apresentou oficialmente a sua denúncia sobre o caso, que remonta a 1998. Foi nessa data que o engenho de Marcos Valério, mais tarde posto à disposição dos interesses de Lula, José Dirceu e outros petistas, teria propiciado recursos ilícitos à candidatura tucana.
Entre o fato e a denúncia passaram-se nove anos; daí até hoje, mais oito. Nesse intervalo, dois personagens do mensalão mineiro –o ex-ministro Walfrido dos Mares Guia e Cláudio Mourão, tesoureiro da campanha do PSDB– se beneficiaram das delongas judiciais.
Tendo completado 70 anos, ambos têm a seu favor a circunstância de que diminui pela metade o prazo legal para a prescrição dos crimes a eles imputados.
Dentre os suspeitos mais importantes, restam o próprio Eduardo Azeredo e seu vice na época, o atual presidente da Confederação Nacional do Transporte, ex-senador pelo PMDB-MG e ex-sócio de Marcos Valério, Clésio Andrade.
Azeredo festejará seus 70 anos só em setembro de 2018, mas ainda assim são boas as chances de que a prescrição de pelo menos um delito (lavagem de dinheiro) o beneficie antes dessa data. Na hipótese de condenação pela pena mínima, o tempo legalmente previsto desde já se completa em seu favor.
Quanto a Clésio Andrade –que, assim como Azeredo, renunciou a seu mandato de modo a remeter o processo para a primeira instância, escapando de julgamento no Supremo Tribunal Federal–, há a registrar que, finalmente, foi convocado para depor na Justiça mineira.
Marcado para daqui a um mês, e quase um ano depois de sua renúncia ao Senado, o encontro de Clésio Andrade com a magistratura terá passado por muitas protelações. Ao sair do STF, o caso foi encaminhado para a 11ª Vara Criminal de Belo Horizonte; houve recurso contra essa solução, uma vez que o processo, inicialmente, tramitava em outra vara, a nona.
Aceitos os argumentos da defesa, foi preciso esperar mais um bocado, já que a nona vara estava sem juiz titular. Por fim nomeada, Melissa Lage recebeu os autos no último dia 28 e iniciou a análise de seus 52 volumes.
Só resta esperar que não se interponham novos obstáculos no caminho desse processo –mesmo sem atrasos adicionais, já terá atrasado muito mais do que o tolerável.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade