Ricardo Almeida Cordeiro
Agronegócio: como e para quem investir?
A ministra da Agricultura Pecuária de Abastecimento, Kátia Abreu, comemorou em mídia social no último dia 6 de julho a suspensão de embargos da carne brasileira na Argentina, Estados Unidos e China.
Concomitante a sua publicação, acontecia na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul uma audiência pública que reuniu centenas produtores rurais, um indígena e autoridades estaduais, da câmara federal e senado, que mais uma vez buscam alternativas para solucionar a disputa por terras na região.
Já se aproxima de 90 o número de propriedades sul-mato-grossenses legítimas, invadidas por diversas etnias indígenas. O cenário, que é estático, é de extrema contradição.
Uma liberação história de mercado internacional, que exige cada vez mais por carne de qualidade, enquanto que a casa se encontra em desordem, a ponto de o produtor rural buscar financiamentos pelo Banco do Brasil, afim de maiores investimentos em genética, pastagem e infraestrutura e se depararem com o bloqueio de crédito, em virtude de sua propriedade, titulada, estar inclusa em relatórios desenvolvidos por um órgão federal indigenista, a Fundação Nacional do Índio (Funai).
Como investir se a propriedade consta em um laudo desenvolvido por uma única entidade, sem o menor crivo técnico? E para quem investir, já que hoje temos a posse, mas amanhã centenas de indígenas, inclusive do vizinho Paraguai, poderão dominar o território?
É sabido que Mato Grosso do Sul atualmente responde pela produção das melhores carnes bovinas e que as ações técnicas de entidades como a Embrapa Gado de Corte e Novilho Precoce, fazem do Estado referência em tecnologias voltadas para pecuária.
Mas essas informações são insuficientes para se exigir um posicionamento da União –que se detém a marcar reuniões com o ministro da justiça, José Eduardo Cardozo, e alimentar esperança de indígenas e pecuaristas– e mudança na omissão da presidente da República, Dilma Rousseff.
Segundo a senadora Simone Tebet (PMDB-MS), que participou da audiência pública no Mato Grosso do Sul, duas medidas a serem tomadas para se solucionar parte desse impasse entre índios, pecuaristas e poder público é a aprovação da PEC 71/2011, que garante a indenização da terra nua e benfeitorias, além da pressão sob o governo federal, para que tomem medidas e impossibilitem que as terras invadidas possam ser demarcadas, amenizando assim os conflitos. Infelizmente, possíveis soluções a longo prazo, para um país que quer visibilidade e superávit econômico urgente.
Diferentemente da senadora, apesar do convite, representantes do Ministério Público e do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), se pouparam da discussão, recusando o convite da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul a participar da audiência.
O ato foi considerado pelos produtores rurais como um "desrespeito" e os ausentes como "covardes". Não faltaram adjetivos também para a União, considerada no ato público como inerte perante a situação, empurrando com a barriga fatos que fazem da comunidade indígena e produtores rurais vítimas do poder público.
RICARDO ALMEIDA CORDEIRO é produtor rural em Mato Grosso do Sul
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