editorial
Inaceitável
Homens encapuzados entram em um bar situado em Osasco, na Grande São Paulo. De armas em punho, determinam que os presentes se encostem na parede. Perguntam quem tem antecedentes criminais. Fuzilam os que respondem com uma afirmativa e vão embora.
Em cerca de duas horas e meia, 18 pessoas foram mortas e seis ficaram feridas nas cidades de Osasco e Barueri. O massacre, dividido em 11 locais distantes poucos quilômetros uns dos outros, ocorreu na quinta-feira (13) à noite, a mais violenta de 2015 na Grande São Paulo.
As ações, odiosas em si, tornam-se ainda mais abomináveis pelas suspeitas de que o grupo de extermínio era formado por policiais dispostos a vingar o assassinato recente de um colega –e essa é a principal linha de investigação.
Se a hipótese for confirmada, o episódio não constituirá caso isolado. Ao contrário, a desconfiança quanto à participação de agentes de segurança se repete nas cinco principais chacinas registradas em São Paulo desde 2013.
"Quando morre um policial, pode saber que em até 15 dias vai ter chacina", diz a costureira Rosângela Gonçalves. "Nunca vai mudar, aqui não existe Justiça", completa, com uma resignação chocante (há três anos, o filho da costureira morreu em uma chacina; na quinta-feira, ela perdeu um amigo).
Manifestações desse tipo expressam com crueza o quanto há de nefasto na existência de esquadrões da morte. Se as forças legalmente constituídas para garantir o respeito às leis não hesitam em violá-las, por que a população deveria confiar no Estado de Direito?
O combate ao crime é um desejo de toda a sociedade, mas ele não pode ser feito ao arrepio das instituições. Fora dos marcos constitucionais não há ordem, mas barbárie; do "cada um por si" resulta apenas mais violência e insegurança.
Menos mal que o secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, tenha afirmado que atuará rapidamente para prender os homicidas, "sejam ou não policiais".
Qualquer sinal de impunidade prejudicará os até aqui bem-sucedidos esforços do governo Geraldo Alckmin (PSDB) neste ano, pelo menos no que respeita a assassinatos. No mês passado, alcançou-se a menor taxa de casos de homicídio da série histórica: 9,38 por 100 mil habitantes (no acumulado dos 12 meses anteriores), cerca de um terço da média nacional.
Enquanto existirem grupos de extermínio, contudo, estatísticas como essa terão pouco sentido para pessoas como Zilda Maria de Paula, cujo filho morreu na quinta-feira. "Não vou usar camiseta com a foto dele, não vou pedir Justiça. Vou continuar meus corres porque ninguém vai me ajudar."
O Estado, responsável pela segurança, tem a obrigação de ajudar; é seu dever identificar, processar e punir os bárbaros assassinos.
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