editorial
Vigiar e polir
A noção de vigilância não encontra adversários no campo da saúde, no qual obter informações e agir prontamente com base nelas previne epidemias e moléstias crônicas. No mundo da educação pública, porém, o conceito costuma ser abominado como óbice à criatividade e à autonomia pedagógica.
Pois é de fraqueza na vigilância que padece o ensino oficial no Brasil. Se o termo incomoda, pela associação indesejável com autoritarismo, que seja substituído por "monitoramento". Ruim é deixar que a carência de dados minuciosos faça prosperar a cultura da leniência com desempenhos medíocres.
Essa foi a mensagem central do Seminário Internacional de Gestão Escolar 2015, promovido pelo Instituto Unibanco e por esta Folha.
Ainda que exista no país razoável conjunto de exames padronizados e bases estatísticas sobre educação, enfrentamos séria dificuldade para dar o salto que se impõe –de qualidade– após a universalização do ensino fundamental.
A deficiência se faz sentir de modo agudo no ensino médio. Em 2013, meros 54% dos estudantes brasileiros terminaram esse nível com até um ano de atraso; no Chile, foram 87%. Contamos 7,2 anos de escolaridade média, contra 9,8 dos chilenos.
Nossos jovens vão ficando para trás. Condenam-se a empregos subalternos e mal remunerados, por sua baixa qualificação. Não é aceitável conformar-se com isso.
Para enfrentar tal falência coletiva, há que aprender com as experiências bem-sucedidas noutras nações. No seminário, ganharam relevo as experiências no Reino Unido, na Austrália e na província canadense de Ontário.
O denominador comum entre elas se fundamenta na adoção de um currículo unificado, como defende esta Folha. Apenas quando se tem clareza sobre o que de fato precisa ser ensinado em cada ano, em cada classe e em cada área resulta factível monitorar de perto o desempenho de cada escola, cada professor e cada aluno.
Bases de dados detalhados permitiram identificar precocemente deficiências e concentrar recursos para saná-las. Passou-se a acompanhar de forma sistemática o desempenho de cada estudante, que recebia atenção especial tão logo começasse a se atrasar.
Nenhum educador –pai, professor, diretor, secretário ou ministro– pode deixar de enxergar o aluno que se apaga em sala de aula. A obrigação de todos é redobrar esforços para devolver-lhe o brilho que se oculta e esmaece sob a grossa camada de desalento que cobre a educação básica no Brasil.
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