editorial
Mais que 7 a 1
Foi a "euforia" do momento. Esta, segundo reportagem publicada pelo portal UOL (empresa do Grupo Folha), a explicação do deputado estadual mato-grossense Romoaldo Júnior (PMDB) para o aval concedido pela Assembleia Legislativa de seu Estado a uma obra bilionária na cidade de Cuiabá.
O VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), cuja construção foi iniciada com vistas à Copa do Mundo de 2014, não ficou pronto para o evento. Continua inacabado, tendo consumido mais de R$ 1 bilhão.
Diversos especialistas em transportes públicos haviam se manifestado contra tal veículo, recomendando a opção menos dispendiosa dos corredores de ônibus.
Mas era Copa; a "euforia" se generalizava entre autoridades federais, estaduais e municipais. Se, como se recorda pelas manifestações de 2013 e de 2014, parte expressiva da sociedade civil contestava os gastos com o evento esportivo, a oportunidade de grandes negócios para empreiteiras e seus contratadores falou mais alto.
Um símbolo memorável dos desperdícios foi o estádio Mané Garrincha, em Brasília. Considerado o terceiro mais caro do mundo entre os construídos nos últimos dez anos, pelo critério do custo de cada assento, o colosso brasiliense consome estimados R$ 600 mil por mês para sua manutenção, sem conseguir abrigar eventos cuja arrecadação compense o investimento.
Em Brasília, ao menos, retirou-se dos planos para a Copa a construção de um veículo sobre trilhos tal como o idealizado em Cuiabá. O deputado Romoaldo Júnior era líder do governo estadual na Assembleia Legislativa quando se celebrou a contratação da obra.
Sem dúvida haverá de ter diminuído a euforia do governador do Estado na época, seu colega de partido Silval Barbosa. Acusado de envolvimento num esquema de corrupção e lavagem de dinheiro, está preso desde o dia 17 de setembro.
O mesmo se pode dizer do ex-presidente da Assembleia, José Riva (PSD), preso pela terceira vez no ano. Ele teria desviado verbas públicas para bancar gastos pessoais e oferecer festas, bebidas e serviços de massagistas a apaniguados.
A euforia, como se vê, foi longe em Mato Grosso –e nada faz crer que o Estado configure exceção.
Em termos mais amplos, esse espírito dominou, no que tem de pior, toda a gestão pública brasileira: das pedaladas fiscais ao Mané Garrincha, do petrolão ao VLT, a população sofre com derrotas que vão muito além dos 7 a 1; conta-se aos bilhões, e não em gols, o seu preço –e sempre sobra para o contribuinte assimilar o prejuízo.
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