Alfredo Scaff
O câncer em tempos de crise
Este mês, além de ser dedicado à conscientização sobre o câncer de próstata, com a estratégia do "Novembro Azul", é marcado ainda pelo Dia Nacional de Combate ao Câncer Infantil (23) e pelo Dia Nacional de Combate ao Câncer (27).
Discutir a importância de organização das redes pública e privada, a necessidade da prevenção e do diagnóstico precoce é uma das contribuições que a Fundação do Câncer quer trazer para este momento de reflexão.
Em tempos de crise econômica, estados e municípios precisam estar atentos à importância de organizarem suas redes de saúde para oferecerem a prevenção e o diagnóstico precoce de câncer à população. É simples entender.
Tratar pacientes em fase inicial é significativamente menos oneroso do que em estágios avançados da doença. Isso porque o tratamento do câncer, quando o tumor é detectado no início, apresenta resultados muito mais eficientes. E principalmente para o paciente o tratamento é geralmente muito menos agressivo.
Mais do que nunca é necessário cuidar do uso adequado e racional dos recursos da saúde, primeiro porque a detecção precoce permite tratar melhor dos pacientes que apresentarem um diagnóstico de câncer.
Os recursos são finitos, especialmente em cenário de aperto financeiro. Por isso, é preciso planejamento que considere este fator, apontando os grupos de risco e as áreas que necessitam de investimentos prioritários.
Demora-se muito para detectar a doença no país - na maioria dos casos, o paciente é diagnosticado em estágio avançado, muitas vezes com o estado de saúde já agravado. É demorado também o acesso aos procedimentos cirúrgicos, quimio e radioterápicos.
O controle do câncer exige planejamento de longo prazo. Para reverter esse quadro, estados e municípios devem desenvolver planos de atenção oncológica capazes de estruturar a rede de saúde ao longo de pelo menos uma década.
Esses planos têm de definir ações, programas e projetos necessários à implantação de uma política de atenção oncológica em todos os aspectos da educação, promoção à saúde, prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, cuidados paliativos, sistemas de informação e regulação assistencial. A Fundação do Câncer desenvolveu metodologia para a elaboração e implementações de planos de atenção oncológica e tem apoiado estados e municípios na sua realização.
O Brasil tinha 23,5 milhões de idosos em 2012, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que esse número subirá para 32 milhões em 2025. Em 2055, o país deverá ter maior parcela da população formada por pessoas com 60 anos ou mais do que jovens de até 29 anos.
A preocupação é porque o câncer se manifesta com muito mais frequência entre os idosos. Por isso, a sociedade e o sistema de saúde devem preparar-se para cuidar desta enfermidade com foco nessa faixa etária.
O planejamento oncológico deve levar em conta também o envelhecimento da população para sua base de diagnóstico. Num estado com maior número de idosos, por exemplo, esse estudo aponta metas necessárias para ampliar o diagnóstico precoce e a oferta de equipamentos de saúde. Nos estados com mais jovens, indica ações de prevenção importantes para evitar que o grupo nessa faixa etária desenvolva câncer.
É importante destacar que um quarto da população brasileira (50.261.602 vínculos em setembro de 2015) possui plano de saúde. As operadoras de planos de saúde deveriam desenvolver iniciativas de prevenção e diagnóstico precoce - de forma mais efetiva - visando a controlar o câncer.
Poderiam, por exemplo, realizar o rastreamento e o monitoramento em toda sua carteira de beneficiários para os tipos de câncer mais frequentes, como mama, colo uterino, próstata e cólon-retal.
Neste tempo de crise temos –toda a sociedade– que buscar as melhores alternativas para o enfrentamento dessa doença. Necessita-se urgentemente que o poder público e empresas privadas revisem suas responsabilidades, pactuando ações concretas para a prevenção, a detecção precoce e o acesso rápido ao tratamento do câncer no Brasil.
ALFREDO SCAFF, 50, é médico epidemiologista da Fundação do Câncer
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