editorial
O enigma do petróleo
A renitente tendência de queda dos preços do petróleo tem levado volatilidade às Bolsas de Valores e desconcerto aos analistas do setor. Em paralelo, põe em xeque o incipiente esforço para combater o aquecimento global.
Dois meses após o Acordo de Paris, pelo qual 195 países concordaram em cortar gases do efeito estufa emitidos por combustíveis fósseis, a cotação do barril voltou a cair para US$ 30, um recuo de mais de 70% em um ano e meio.
A queda veio após relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) predizer que a commodity não se revalorizará em 2016. Há muitos motivos para isso, a começar pelo desacordo entre países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) sobre reduzir a produção para elevar os preços.
Com cotação baixa e excesso de oferta, estimula-se o consumo. Nos EUA, por exemplo, o cidadão se vê impelido a manter a preferência por camionetes com alto consumo de gasolina ou diesel, pois lhe sai mais barato que investir nos ainda caros veículos elétricos.
É o oposto do que se acordou em Paris. No intuito de mitigar a mudança do clima, os preços do petróleo deveriam subir, e não cair. E não se trata somente de superoferta, mas também de uma demanda que tarda em reagir.
De um lado, a China refreou seu crescimento, e mesmo o índice de aumento relativamente modesto do PIB (6,9%) em 2015 começa a ser posto em dúvida. De outro, países emergentes do porte da Rússia e do Brasil enfrentam graves crises econômicas e estagnação.
Na Europa e na América do Norte, o estímulo à demanda vindo dos preços baixos acaba parcialmente anulado por padrões cada vez mais exigentes de eficiência dos motores. Mas é inegável que o petróleo barato quebra as pernas de fontes alternativas.
O Brasil deu o exemplo mais gritante dessa falha de política pública. Ao manter a gasolina artificialmente barata para conter a inflação, o governo Dilma Rousseff (PT) esfrangalhou o setor alcooleiro.
O Acordo de Paris enfeixou todas as boas intenções do mundo no que tange à mudança do clima. Omitiu-se, porém, no tocante a fazer os preços de combustíveis fósseis refletirem seu custo ambiental, por exemplo com impostos sobre o carbono emitido.
Barack Obama pretende criar nos EUA uma taxa de US$ 10 por barril de petróleo para financiar projetos de transporte limpo e sustentável, mas o Congresso de seu próprio país -para não falar do restante do mundo- parece pouco inclinado a dar esse passo.
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