WILTON ACOSTA
Destituição de Dilma é missão cristã
A Bíblia Sagrada anuncia em diversas de suas passagens o dever profético do povo de Deus de zelar pela conduta ética dos administradores e da administração pública.
Mais do que isso, segundo o trecho do Livro de Josué (7:7-26), a missão cristã inclui apontar à justiça divina aqueles que descumprem as regras. Também por essa razão, o Fenasp (Fórum Evangélico Nacional de Ação Social e Política) defende o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Entidade legitimamente constituída à luz do Estado democrático de Direito, o Fenasp luta pelas bandeiras, pelos valores e princípios cristãos e representa a parcela dos evangélicos que acredita na ação profética do povo de Deus.
É fato que, salvo pelas Marchas para Jesus dos três últimos anos, os evangélicos ainda não firmaram no Brasil tradição de sair às ruas em nome de bandeiras políticas. Unem-se pela incondicional defesa da vida e da família, em quaisquer circunstâncias.
Mas o que é defender vida e família se não lutar, por meio da organização que a fé nos permite, para impedir, ou ao menos atenuar, o sofrimento dos mais pobres, daqueles que clamam por milagre de Deus quando perdem o emprego, quando o dinheiro já não dá para o aluguel e mal chega para a comida?
O Brasil de hoje parece cenário de filme de terror, daqueles em que as pessoas entram em choque quando viram a esquina e dão de cara com o monstro. No enredo tupiniquim, o choque dos brasileiros se deu quando viram desmoronar conquistas galgadas em quatro décadas.
O desgoverno do PT condenou o país ao precipício depois de uma caminhada de 40 anos para conquistar democracia, estabilidade econômica, credibilidade internacional e combater o apartheid social.
A presidente Dilma deve satisfações a todos os brasileiros, a começar aos 4 milhões de cidadãos convidados a subir na vida que, mal tomado o novo rumo, tiveram suas conquistas confiscadas sem qualquer explicação. Um roubo!
De acordo com dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), foi mais ou menos isso o que aconteceu em 2015: milhões de brasileiros ascenderam à classe C, botaram mais dinheiro no bolso, mais sustância na mesa e, quando estava ficando bom, o agravamento da crise devolveu boa parte deles às classes D e E.
Nossas igrejas têm funcionado como pronto-socorro, às vezes até UTI, dos desesperados. Oramos para confortar aqueles que lamentam os empregos perdidos e as portas que não se abriram ao longo do dia. Oramos para acalmar os desesperados, que nada veem à frente, tomados pela inércia de sucessivas perdas.
A pauta do Congresso passa à margem desse desespero. Anda na velocidade e conforme os temas que interessam, ora ao governo, ora à oposição. Nesse círculo vicioso, um cobra o que lhe foi prometido para apoiar o PT, principalmente a nomeação de apadrinhados para cargos no governo; outro segue a linha do "quanto pior, melhor".
É hora de cumprirmos nossa vocação profética. O Fenasp vai priorizar ações voltadas ao reestabelecimento da governabilidade do país. Organizaremos um cronograma de manifestações pelo impeachment.
O povo de Deus irá às ruas clamar por um governo que tenha liderança política, que seja respeitado e respeite a sociedade, que represente de fato e trabalhe pelos interesses dos cidadãos, que não minta e seja, acima de tudo, íntegro.
Nesse governo não cabem Dilma Rousseff nem o PT.
WILTON ACOSTA, 45, pastor evangélico, filiado ao PRB, é presidente do Fórum Evangélico Nacional de Ação Social e Política e da Fundação do Trabalho de Mato Grosso do Sul
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