Editorial
Essência do acordo de paz
Quase quatro anos após o início das tratativas, o acordo de paz entre o governo da Colômbia e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) aproxima-se de seus momentos finais.
Nesta quinta-feira (23), as partes chegaram a um entendimento sobre a essência das negociações: o cessar-fogo definitivo e a deposição das armas pela guerrilha. Trata-se de encerrar uma guerra que, durando mais de 50 anos, provocou a morte de 250 mil pessoas e o deslocamento de quase 8 milhões.
O anúncio, realizado em Havana (Cuba), contou com a presença do presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, e do líder das Farc, Rodrigo Londoño. Também compareceram os chefes de Estado do Chile, da Venezuela e do México, além do secretário-geral da ONU e de representantes dos Estados Unidos e da União Europeia.
Definiu-se que o fim das hostilidades ocorrerá num prazo de 180 dias após a assinatura do acordo e que a entrega das armas se dará de forma gradual, em três momentos durante esses seis meses.
Em contrapartida, o governo colombiano se comprometeu a garantir a segurança dos ex-guerrilheiros contra seus grupos rivais (ex-paramilitares, milícias inimigas) assim que a rebelião terminar.
Apesar de crucial e, para muitos analistas, histórico, o ponto anunciado nesta quinta não constitui uma condição suficiente para encerrar a longeva guerra —e, embora seja sem dúvida uma etapa necessária, não é a única.
Diversos detalhes práticos ainda precisam ser acertados para o acordo final, cuja assinatura deve ocorrer até agosto —para nada dizer dos muitos passos que já foram dados, sem os quais o pacto nem teria atingido o atual estágio.
Já houve acertos, por exemplo, sobre uma reforma agrária e a participação de ex-guerrilheiros na política. Também se negociaram a interrupção do plantio de coca pelas Farc e os termos da reparação às vítimas, que inclui a criação de um tribunal especial para julgar crimes e o estabelecimento de uma comissão da verdade.
Fechado esse capítulo, inicia-se outro: o processo de consulta popular sobre o tratado, no qual as disputas políticas locais se farão sentir. Enquanto Santos defenderá o acordo como seu grande legado, seu predecessor, Álvaro Uribe, atuará como o crítico mais proeminente do pacto. Convém manter certo ceticismo, portanto.
Não à toa, o atual presidente costuma dizer que nada está acordado até que tudo esteja acordado.
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