editorial
Fôlego emergente
Em nova revisão das perspectivas para a economia do planeta, o Fundo Monetário Internacional trouxe uma pequena, mas importante, novidade. À diferença do padrão dos últimos dois anos, a redução nas projeções de crescimento concentrou-se nos países desenvolvidos, não no mundo emergente.
A principal mudança para pior se deu com o Reino Unido, em consequência da decisão de abandonar a União Europeia, mas também houve ligeiras quedas associadas à zona do euro e aos EUA.
Os gigantes China, Rússia e Brasil mereceram algum otimismo adicional. No caso brasileiro, a alteração foi relevante —as estimativas para a evolução do Produto Interno Bruto neste ano e em 2017 subiram meio ponto percentual, para -3,3% e 0,5%, respectivamente.
No cômputo geral, o FMI estima que o mundo deve crescer 3,1% neste ano e 3,4% em 2017. Trata-se de um desempenho não mais que moderado; a vantagem, em especial para os emergentes, é que os juros norte-americanos, europeus e japoneses permanecerão baixos.
Taxas perto de zero nos Estados Unidos significam dólar mais barato —porque há menos demanda por aplicações nessa divisa– e preços mais favoráveis para os exportadores de matérias-primas.
Com isso, houve nas últimas semanas forte ingresso de capital estrangeiro nas economias onde ainda pagam-se juros elevados, caso do Brasil. O governo federal aproveitou para vender US$ 1,5 bilhão em títulos; as empresas brasileiras, neste ano, já tomaram US$ 14,5 bilhões lá fora.
Evidentemente, há também motivos locais para a melhora do panorama. No Brasil, observam-se avanços do programa de ajuste das contas públicas; a balança comercial mostra superavits crescentes; recupera-se, aos poucos, a confiança do empresariado industrial.
Na China, o temor de colapso iminente que balançava os mercados desde o ano passado deu lugar a uma perspectiva de ajuste mais gradual, ao menos por enquanto.
Apesar de a fragilidade do crescimento global suscitar cautela, como apontou o Banco Central em comunicado na semana passada, o ambiente global se apresenta mais promissor para os emergentes.
Trata-se de boa notícia para um governo que apenas inicia uma longa trajetória de recuperação. Que a calmaria não seja tomada como permanente e o ajuste econômico caminhe de forma célere nos próximos meses.
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