Miguel De Almeida
A Olimpíada e a tomada de três pinos
Não podemos nos esquecer jamais: o Brasil deve ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Copa do Mundo, os Jogos Olímpicos e a tomada de três pinos. Devo estar esquecendo algo, mas deixa pra lá.
Da Copa de 2014, além dos 7 a 1 sob Felipão, ficou o legado visível de estádios superdimensionados em Manaus e Brasília, para citar apenas dois exemplos. No momento, o orçamento de reforma do Maracanã é investigado.
De quem foi a ideia de espalhar a realização dos jogos por todo o país, desconsiderando a sugestão da Fifa de fazer a competição em apenas quatro sedes? De Lula, claro.
E a Olimpíada? Bem, repete a fixação de Lula e sua turma em defender ideias e conceitos ultrapassados. Há por parte deles uma constante em negar o aprendizado histórico.
O que dizem os exemplos? As chamadas grandes competições esportivas só servem a seus organizadores, aos amigo$ dos governantes, e trazem constante desrespeito aos direitos humanos. Depois, deixam como legado... o enriquecimento da indústria de segurança.
Não é por acaso, e Lula presenciou esse fato ainda no poder, que alguns países, como Suécia e Noruega, se recusaram a sediar as próximas Copas ou Jogos Olímpicos.
Outras informações estavam à mão quando foram vendidos aos brasileiros esses supostos privilégios. Às vésperas da Copa da África do Sul, em 2010, uma onda de violência varreu as cidades do país, com o aumento brutal de roubos e assassinatos (lembra em alguma coisa o Rio de 2016?).
Os Jogos de 2004, na Grécia -onde a população logo depois foi às ruas para comer o fígado de seus governantes, dada a crise econômica e o alto grau de corrupção-, tiveram os custos iniciais previstos em US$ 1,3 bilhão; passada a euforia, as contas subiram a US$ 5,4 bilhões e fecharam em módicos US$ 14,2 bilhões. Os gregos tiveram de presenciar ainda a chegada de 70 mil soldados estrangeiros, para reforço na segurança.
E os Jogos de Inverno de 2010, no Canadá? A conta inicial era de gastos de US$ 660 milhões; terminou em US$ 6 bilhões. Outro dado assustador: estimava-se um retorno de US$ 10 bilhões. Segundo uma consultoria, foi de apenas US$ 1 bilhão. Isso revoltaria até o japonês da federal.
Menos traumática não foi a experiência na Olimpíada de 2012, na despreparada Londres. Foi uma festa para órgãos de segurança. De imediato os ingleses fizeram uma cerca elétrica de 17 km: o clássico ninguém sai, ninguém entra.
Colocaram aviões não tripulados vigiando a cidade e mobilizaram milhares de soldados. Foi a maior força reunida pelos ingleses desde a Segunda Guerra Mundial. Ah, o legado: cada esquina de Londres ganhou uma câmera de segurança.
Vamos de Rússia, que é um lugar, em termos de honestidade de autoridades, parecido com o Brasil. Sochi, 2014: ai, meu Deus. Além de aprovar uma legislação para aprisionar os gays, os Jogos de Inverno de Vladimir Putin custaram US$ 50 bilhões. A previsão inicial era bem mais modesta: US$ 8,7 bilhões.
A imprensa noticiou o enriquecimento de amigos de infância do macho-alfa Putin. Aí você olha para a tomada de três pinos, para a ciclovia da avenida Niemeyer que desabou, no Rio, e pensa: ainda estamos no lucro?
MIGUEL DE ALMEIDA é editor e escritor. Dirigiu, com Luiz R. Cabral, o documentário "Não Estávamos Ali para Fazer Amigos", sobre a atuação do caderno "Ilustrada", da Folha, no fim da década de 1980
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