editorial
Não vale um barão
As cenas de saques violentos e protestos durante este mês de dezembro expuseram, mais uma vez, a incapacidade do governo da Venezuela de enfrentar a crise econômica que arrasa o país.
Decisões do presidente Nicolás Maduro agravaram a falta crônica de dinheiro em espécie. Num anúncio surpreendente até para os padrões do discípulo de Hugo Chávez, o Palácio de Miraflores determinou o fechamento das fronteiras com o Brasil e a Colômbia e a retirada de circulação da nota de 100 bolívares, a de maior valor.
Maduro afirma que máfias internacionais, com o objetivo de prejudicar a economia venezuelana, têm levado para fora do país essas cédulas, que representam cerca de metade do dinheiro em circulação. Como resposta, o presidente resolveu banir as notas de 100 e introduzir cédulas de 500 a 20 mil.
Foi um caos. Houve atraso na chegada das novas notas, e a população, pega desprevenida pela decisão presidencial, viu-se sem dinheiro para fazer compras. Intimidado pelos ataques a lojas comerciais, o governo prolongou a vida das cédulas de 100 bolívares até dia 2 de janeiro.
Os problemas reais ou fictícios com o papel-moeda da Venezuela mostram a que ponto chegou a crise. Somente nos últimos dois meses, o bolívar teve desvalorização de 60% diante do dólar.
As notas valem tão pouco (100 bolívares equivalem a R$ 0,10 no câmbio paralelo) que, para ganhar tempo, alguns estabelecimentos comerciais passaram a pesar os maços de dinheiro em vez de contar as cédulas uma a uma.
Imprimir papel-moeda com cifras maiores é obviamente um paliativo para lidar com a inflação estimada em quase 370% neste ano.
O presidente Maduro, embora conviva há três anos com uma recessão, não se mostra disposto a implantar reformas econômicas urgentes, como a unificação das taxas de câmbio e a criação de estímulos para o setor privado.
O chavismo há muito recorre a medidas autoritárias para se manter no poder. Em termos econômicos, faz no máximo pequenas concessões sem abrir mão do controle estatal, como a liberação do uso de dólares em áreas turísticas frequentadas por estrangeiros. Um alívio viria com a recuperação do preço do petróleo, um cenário incerto.
Mantido o rumo atual, o tumulto dos últimos dias se tornará cada vez mais frequente. Parece haver só uma saída para a Venezuela: implementar o referendo revogatório do mandato presidencial, para que a população diga se quer manter o chavismo à frente do país.
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