editorial
Abstenção simbólica
A administração de Barack Obama quebrou a tradição americana de proteger Israel no Conselho de Segurança da ONU. Em reunião na semana passada, os Estados Unidos decidiram não vetar resolução que condena o governo israelense por construir assentamentos judaicos em territórios palestinos.
O impacto da resolução —aprovada por 14 a 0, com a abstenção dos EUA— é sobretudo simbólico.
No plano prático, não cria obstáculo à construção de moradias para colonos judeus. Tanto que, para deixar claro seu descontentamento, o governo do premiê Binyamin Netanyahu reafirmou que o plano de ampliar o número de assentamentos segue a todo vapor.
Mesmo o simbolismo da medida deve ser relativizado, pois nem pressagia mudança de atitude dos EUA em relação à política israelense de colonizar terras palestinas.
Obama vive seus últimos dias como inquilino da Casa Branca. Seu substituto, Donald Trump, embora seja um poço de incertezas, tem emitido sinais de que apoiará Israel com muito mais vigor.
Para o posto de embaixador dos EUA em Israel, Trump escolheu David Friedman, que apoia abertamente políticos de extrema-direita em Israel e doa dinheiro para a construção de assentamentos.
Pior, o presidente eleito prometeu mudar a embaixada dos EUA de Tel Aviv para Jerusalém, o que, por falar em simbolismo, representaria uma vitória avassaladora para Netanyahu, ainda que ao preço de açular o confronto.
Pela partilha da ONU de 1947, que previa a criação de Israel e de um Estado palestino, Jerusalém seria uma cidade internacional. Desde então, a esmagadora maioria dos países que têm relações diplomáticas com Israel mantém sua embaixada em Tel Aviv.
Uma mudança para Jerusalém antes do acordo de paz definitivo que estabeleça a cidade como capital compartilhada seria tomada como um golpe fatal contra a solução dos dois Estados.
Quanto ao mérito, a política de ampliar os assentamentos é "camicase", como escreveu Hussein Kalout, colunista desta Folha. Pode até servir ao objetivo de curto prazo de Netanyahu de fortalecer sua coalizão de governo, mas sabota qualquer esforço genuíno de retomada das negociações de paz.
No longo prazo, dadas as tendências demográficas, ou Israel entra em entendimento com os palestinos ou verá as tensões ampliadas a níveis incontroláveis.
Será o fim do caráter judaico de Israel –=ou a instauração de um governo que não concederá direitos políticos à maioria dos habitantes.
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