editorial
Saída à inglesa
Em muitos países, entre os quais o Brasil, "sair à francesa" significa deixar um local sem se despedir ou sem dar satisfações. Curiosamente, na própria França, entre outras localidades, utiliza-se expressão diversa: "sair à inglesa".
Foi, de certa forma, o que fez a premiê do Reino Unido, Theresa May, ao indicar a opção por um "brexit duro". Sem maiores embaraços, anunciou em que termos seu país deixará a União Europeia. Os britânicos retomarão a soberania e o controle das fronteiras e abrirão mão dos benefícios do mercado comum europeu.
As declarações põem fim a meses de hesitação do governo após o resultado inesperado do referendo de junho do ano passado. Por lamentável que seja a escolha por uma ilha mais fechada ao mundo, ao menos agora os mercados e a União Europeia conhecem o caminho que o Reino Unido adotará.
Antes do anúncio, não se sabia se prevaleceria a ideia, defendida inclusive por alguns partidários do "brexit", de fazer um divórcio apenas pela metade —o país se fecharia no que tange à circulação de pessoas, mas não de bens.
Seria uma opção menos danosa ao livre mercado, mas adicionaria desconforto até o aperto de mão final entre as partes. Além disso, o bloco europeu considera inadmissível uma solução amigável que estimule rupturas futuras.
May, enfim, partiu sem muitas cerimônias; nem por isso, entretanto, quer perder o contato. A líder conservadora defendeu que o Reino Unido venha a firmar acordos bilaterais com a própria UE e outros países, Brasil entre eles.
Não será fácil, tanto pela onda protecionista em todo o mundo como porque o bloco europeu precisa lidar com uma fila de tratados de livre-comércio emperrados.
Seja como for, na próxima terça (24), a Justiça britânica decidirá se cabe ao Legislativo ou ao Executivo iniciar o processo de separação.
Caso se confirme a primeira opção, não se espera que o Parlamento do Reino Unido anule a decisão tomada pelos eleitores britânicos. Contudo, imagina-se que terão a oportunidade de redefinir alguns termos do "brexit" —nem que seja somente para amenizar mágoas que poderiam surgir com a "saída à Theresa May".
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