editorial
El Niño a caminho
Após o forte El Niño de 2015-16, que só perdeu em intensidade para o de 1997-98, esse aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico Oriental ameaça voltar e pôr em tumulto o clima mundial. No Brasil, pode prejudicar as safras e afetar até a taxa de inflação.
Não existe motivo para grande alarme —ainda. As medidas de temperatura no Pacífico indicam, no momento, neutralidade entre condições de El Niño e do fenômeno oposto, La Niña. Especialistas predizem, contudo, que há probabilidade acima de 50% de uma recidiva de El Niño.
Na Austrália, isso bastou para acionar um alerta nacional. Aquele país saiu de um verão escaldante, com temperaturas quase 3°C acima da média, e El Niños em geral acarretam secas no inverno e na primavera, além de verões quentes.
Por aqui, a anomalia climática costuma levar chuvas torrenciais à região Sul e estiagens acentuadas ao Nordeste e a partes da Amazônia. A perturbação do ciclo de chuvas pode atrapalhar a safra de grãos, tanto aqui quanto noutros grandes produtores agrícolas.
A queda nos preços agrícolas a partir de setembro do ano passado teve forte influência da melhoria nas condições climáticas. A inflação acumulada em 12 meses caiu de 8,5%, naquele mês, para 4,8%, e 2 desses 3,7 pontos percentuais de decréscimo foram obtidos com o recuo de preços de alimentos.
Mesmo no advento de novo El Niño, o estrago pode não ser acentuado, porém. As safras deste ano estão batendo recordes e permitiram a recomposição de estoques, situação diversa da de dois anos atrás.
Mesmo que não cause oscilações acentuadas nos preços das commodities agrícolas e, por consequência, na taxa de inflação, a reedição de El Niño ainda implicaria más notícias para o Brasil.
O semiárido nordestino foi castigado por cinco anos sucessivos de uma seca acentuada. O prolongamento da estiagem será dolorosamente sentido na região mais pobre do Brasil, que já sofreu de maneira mais intensa que o restante do país os efeitos da brutal recessão dos últimos anos.
Além disso, uma diminuição das chuvas na Amazônia torna a floresta mais inflamável, facilitando o desmatamento —que já teve avanço nos dois anos anteriores, de quase 8.000 km² só em 2016.
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