editorial
A autonomia é azul
Caminha para generalizar-se a prática de designar meses com cores associadas a campanhas de prevenção e esclarecimento. A moda teve origem nos Estados Unidos com o outubro rosa, voltado ao câncer de mama, depois seguido do novembro azul, com foco nos tumores de próstata.
Com efeito, as neoplasias da glândula sexual masculina demandam um esforço contínuo de informação ao público, sobretudo no que diz respeito aos exames periódicos para detecção da doença em estágio precoce. Sucessivas mudanças de recomendações médicas têm semeado alguma confusão a respeito.
Os tumores malignos de próstata constituem o câncer mais comum em homens —29% do total no Brasil. O Instituto Nacional do Câncer estima 61,2 mil novos casos a cada ano; houve 14,3 mil mortes por essa causa em 2015.
Por muito tempo indicavam-se dois testes preventivos para homens acima de 50 anos: o PSA (exame de sangue para detectar níveis aumentados de uma proteína produzida pela glândula) e o toque retal.
Na presença de câncer, recomendava-se cirurgia para remover a próstata. No entanto, ela pode ser sucedida por sequelas como incontinência urinária (há aumento de 20% no risco de desenvolvê-la até dez anos após a operação) e disfunção erétil (incremento de 30%).
Tal recomendação sofreu um abalo em 2012, quando a Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA, grupo de especialistas ligado ao governo americano, divulgou diretriz desaconselhando a realização de PSA periódico em homens saudáveis, sem sintomas.
As razões alegadas então foram o sobrediagnóstico —a detecção de tumor que não mataria o paciente— e a ocorrência de complicações desnecessárias. O risco seria desproporcional à quantidade de vidas salvas com cirurgia, pois era de apenas 0,09% a redução nas mortes de homens de 55 a 69 anos por câncer de próstata, após 11 anos.
Em nova reviravolta, a força-tarefa reabriu a discussão. A entidade estava isolada, uma vez que a opção do teste não fora descartada por outras organizações, a exemplo da Sociedade Brasileira de Urologia.
A proposta agora é que a decisão sobre o PSA seja feita individualmente no caso de homens entre 55 e 69 anos (a contraindicação segue para os acima de 70), com base numa discussão de riscos e benefícios.
Esta é, quase sempre, a melhor receita de boa medicina: informação e diálogo entre médico e paciente, para que juntos cheguem à decisão correta —aquela que se baseia nas melhores evidências e na liberdade de escolha consciente.
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