editorial
Equilibrismo de Macron
Depois de uma consagradora vitória pessoal, o novo presidente da França, Emmanuel Macron, tem agora o desafio de conquistar uma base parlamentar que viabilize sua agenda de reformas.
A primeira grande batalha se dará no início de junho, com as eleições para a Assembleia Nacional. No sistema francês, um presidente que não obtém maioria no Legislativo divide o poder -no que se convencionou chamar de coabitação- com o primeiro-ministro que emergir da coalizão vencedora.
Tal cenário, ao menos em princípio, dificultaria a execução da plataforma de Macron e seu movimento En Marche.
A estratégia do presidente foi formar seu primeiro gabinete com uma mistura de nomes de centro-direita e centro-esquerda, de fortes credenciais pró-europeias, com o objetivo de atrair apoios dos partidos mais tradicionais.
Além disso, em lance de ousadia, o En Marche lançou na disputa eleitoral uma maioria de candidatos sem experiência política prévia -apenas 24% dos que concorrem pelo movimento são atualmente parlamentares.
O prognóstico, até agora, não é ruim. Levantamentos apontam que a maior parte dos franceses está satisfeita com os escolhidos para o gabinete. Daí a conseguir nomear o premiê, entretanto, vai um longo caminho. As hipóteses são várias, entre elas uma coalizão com a centro-direita, que aparece bem colocada nas pesquisas.
Na campanha, Macron defendeu, como programa para a reativação da economia, uma reforma do Estado francês, campeão de gastos na Europa. Propôs ainda flexibilização do mercado de trabalho e maior integração europeia.
Tal orientação tende a facilitar o entendimento com a Alemanha, desde que a França resolva seus próprios problemas.
Se conseguir dar passos concretos -superando resistências ferozes à agenda liberal-, Macron poderá obter da chanceler Angela Merkel concessões em áreas como integração orçamentária e bancária, ambas consideradas importantes para melhorar o funcionamento da moeda comum.
Trata-se de uma chance que não pode ser desperdiçada. Para o presidente francês, o euro é um projeto incompleto -e que, sem reformas, poderá não existir em dez anos.
Restaurar o dinamismo europeu afigura-se como o melhor seguro contra extremistas, como a Frente Nacional de Marine Le Pen.
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