Um olhar sobre a imigração dos latino-americanos
Adriano Vizoni/Folhapress | ||
Movimentação de imigrantes em balsas que cruzam o rio Suichate, fronteira entre México e Guatemala |
Os últimos dados registrados apontam que cerca de 30 milhões de latino-americanos e caribenhos residem em países diferentes dos locais de nascimento, o equivalente a 4% do total da população latina. A região também é o destino de quase oito milhões de imigrantes.
Os Estados Unidos continuam sendo o principal destino dos latino-americanos. Mais de 20 milhões estão em solos americanos, seguido de outros países da região (3,7 milhões) e Espanha (2,4 milhões). Nacionais do Caribe, da América Central e do México são os que mais deixam suas casas.
Já quando observamos a imigração entre os países da região, argentinos, venezuelanos, costa-riquenhos e dominicanos representam os que mais circulam entre as fronteiras regionais.
Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), assim como acontece em âmbito global, as mulheres são as que mais migram em busca de novos horizontes. Isso acontece porque, geralmente, pertencem a grupos mais vulneráveis (são as mais pobres, desempregadas, com menor capacidade de resposta, entre outros). No entanto, não são apenas os grandes centros que registram perdas em sua população.
A América Latina é a região mais urbanizada do mundo; 80% da população vive nos centros urbanos. Um dos grandes motivos é a saída de pessoas do campo rumo às cidades. Os homens representam a maior parte da parcela que busca nas metrópoles outra condição de vida.
Entre as causas que levam a essa migração está o elevado índice de pobreza no campo. A Colômbia, por exemplo, registrou seis milhões de refugiados internos em 2015 em decorrência da violência interna.
Mais de 60% dos refugiados estão abaixo da linha da pobreza, e 33% vivem em condições de extrema pobreza. O país tem a segunda maior população de deslocados internos do mundo.
Outro fator que tem contribuído para o adeus às áreas rurais é a vulnerabilidade gerada diante das mudanças climáticas e dos efeitos dos fenômenos naturais registrados nos últimos anos.
Além disso, o mau uso dos recursos naturais tem refletido na diminuição de áreas cultiváveis. Quase 15% da degradação mundial dos solos acontece na América Latina e Caribe. À medida que os solos se degradam, a capacidade para produzir alimentos é reduzida, o que coloca em risco a segurança alimentar e os meios de vida de grande parte da população rural.
A FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) tem trabalhado com os países para amenizar as causas da migração, não porque ela seja um problema, mas porque a mudança deve acontecer a partir de uma decisão e não uma atitude forçada diante de uma necessidade de sobrevivência.
O direito de migrar deve incluir o direito de também não migrar, o que significa dizer que é necessário reunir condições indispensáveis para que as populações rurais possam realmente optar entre ir ou ficar.
É fundamental adotar ações que sigam na direção de gerir as terras de forma sustentável, evitar a degradação e promover a recuperação do meio ambiente. Esse é apenas um primeiro passo para tentar frear a pressão migratória nos principais polos.
Também é essencial impulsionar investimentos estratégicos nas áreas rurais que beneficiem produtores, principalmente a agricultura familiar, que muitas vezes padece de infraestrutura básica -estradas, luz, internet, saneamento, reservatórios de água, postos de coleta-, aliados ao acesso a crédito, assistência técnica, seguros e capacidade de chegar aos mercados.
Por fim, precisamos repensar o modelo de desenvolvimento rural e torná-lo cada vez mais inclusivo, resiliente e sustentável. É por esse motivo que a FAO decidiu levantar o debate das migrações no Dia Mundial da Alimentação, celebrado neste 16 de outubro e que marca a data de criação da FAO, em 1945.
ALAN BOJANIC, agrônomo, é representante da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) no Brasil
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