Interino da Abin diz ter perfil mais discreto que seus antecessores
O diretor-geral interino da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Wilson Roberto Trezza, disse nesta quinta-feira que tem um perfil mais "reservado" do que seus antecessores no cargo. Avesso a entrevistas e à exposição pública, Trezza disse acreditar que o perfil do diretor-geral da Abin deve ser de uma pessoa com menos publicidade.
"Não quero fazer juízo de valor das pessoas que me antecederam, mas sou uma pessoa mais reservada. Acho que a minha atividade, por natureza, prescinde desse tipo de exposição", afirmou.
Trezza compareceu nesta quinta-feira à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado para ser sabatinado para o cargo, mas a oposição adiou a votação de sua indicação para a diretoria-geral da Abin --o que automaticamente também suspendeu a sabatina.
O senador Heráclito Fortes (DEM-PI) fez duras críticas à estrutura da agência depois do episódio do suposto grampo, que teria sido realizado por homens da Abin, contra o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes --em meio à Operação Satiagraha, da Polícia Federal.
Trezza evitou comentar as declarações de Heráclito, mas disse estar disposto a responder todos os questionamentos dos parlamentares durante a sabatina. "Não vejo como ter problemas com a sabatina. É natural [o adiamento], o Senado exerceu o seu direito. O que vi hoje é um exemplo de democracia", disse.
O diretor interino também não quis comentar as críticas de Heráclito relacionadas aos supostos "arapongas" da Abin que teriam sido responsáveis pelo episódio dos "aloprados" e do mensalão. "Precisaria primeiro ouvir os argumentos dos senadores antes de dar qualquer resposta. Não sei que argumentos ele dispões", afirmou.
Trezza disse que, se tiver o nome aprovado pelo cargo, vai manter a conduta adotada nos últimos meses em que ficou como interino na diretoria-geral da Abin. "Não quero fugir do padrão adotado."
Mal estar
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Durante a sessão da comissão, na frente de Trezza, Heráclito fez duras críticas ao atual modelo da Abin, sem responsabilizar diretamente o futuro novo diretor.
"Nada contra o doutor Trezza, mas tivemos os aloprados, o mensalão. Esse órgão, que é estratégico, de auxílio, transformou-se num antro de arapongas a bisbilhotar a vida das pessoas, inclusive de parlamentares. Vários senadores, nos quais me incluo, também o senador Demóstenes, teve sua vida bisbilhotada de maneira ilegal por arapongas da Abin", disse o senador.
Irritado com o adiamento da sabatina já que Trezza estava presente na comissão, o senador Wellington Salgado (PMDB-MG) disse que o gesto de Heráclito foi desrespeitoso com o futuro diretor da Abin. Heráclito reagiu às acusações do colega ao negar que tenha cometido atos deselegantes em relação a Trezza.
Desde setembro do ano passado, Trezza substitui interinamente Paulo Lacerda, que foi afastado após denúncias de que autoridades dos três Poderes teriam sido alvo de escutas telefônicas ilegais. Lacerda se tornou, após o afastamento, adido policial do Brasil em Portugal.
Após as suspeitas de escutas para monitorar autoridades federais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou a substituição de toda a cúpula da Abin. No Congresso, uma CPI das Escutas Telefônicas foi instalada para investigar o assunto, enquanto a Polícia Federal abriu inquérito para apurar as acusações.
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