Peritos encontram ossuário clandestino que pode abrigar corpos de vítimas da ditadura
Peritos encontraram na manhã desta terça-feira (30) restos mortais em uma vala que pode abrigar corpos de vítimas da ditadura militar.
Os restos estavam dentro de sacos azuis, no interior do ossuário clandestino localizado sob um canteiro do cemitério de Vila Formosa (zona leste de São Paulo).
Os trabalhos começaram há duas semanas, liderados pela Polícia Federal, e devem prosseguir até sexta-feira (3).
Ossos ocultos em São Paulo serão investigados
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A procuradora da República Eugênia Gonzaga, que acompanhou as buscas, disse que a equipe encontrou "uma camada de sacos azuis, típicos de serviço funerário, embaixo de uma camada de terra de mais ou menos 1,5 m".
O vão subterrâneo onde foram depositados os ossos tem aproximadamente 3 m de largura por 3 m de comprimento, segundo a procuradora. Foram 16 sacos retirados até 17h30, fim do expediente.
A única certeza, segundo Eugênia, é tratar-se de ossadas humanas. Mas restos de militantes políticos devem estar mais abaixo, pois as ossadas encontradas hoje "são provavelmente da década de 90 ou mais".
Eugênia acredita que, nos próximos dias, eles detectarão restos dos anos 70.
A equipe é formada por membros da PF, do Ministério Público Federal em São Paulo e da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), ligada à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
Documentos obtidos pela família de Virgílio Gomes da Silva, que apontam o número do terreno em que ele foi enterrado, serviram de ponto de partida para a varredura em Vila Formosa.
Líder sindical e veterano da ALN (Ação Libertadora Nacional), sob o codinome Jonas ele comandou, em setembro de 1969, o sequestro do embaixador americano Charles Elbrick.
Segundo o Ministério Público Federal de São Paulo, envolvido na operação, a próxima etapa consiste numa "pesquisa antropológica": cruzar características da ossada com fotos e dados médicos e dentários dos desaparecidos. Essa fase será tocada pela PF, com auxílio do IML (Instituto Médico Legal).
O Instituto Nacional de Criminalística, da PF, confrontará material genético extraído das ossadas com um banco de DNA formado com material colhido de familiares das vítimas.
Essa parte do trabalho será complicada, pois as ossadas podem estar em condições precárias.
OUTRAS BUSCAS
Em outubro, seis ossadas foram exumadas no cemitério de Perus (zona norte da capital).
Uma reforma para reurbanizar o cemitério de Vila Formosa, tocada nos anos 70, na gestão do prefeito Miguel Colasuonno, dificultou a localização dos corpos dos militantes.
No futuro, a PF vasculhará também o cemitério de Parelheiros (zona sul). Resta também analisar cerca de mil ossadas retiradas em 1990 da vala clandestina de Perus, que atualmente estão no cemitério do Araçá (zona oeste).
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