Governador do RS aponta ligação entre desgaste de Dilma e julgamento do mensalão
A queda na popularidade da presidente Dilma Rousseff verificada pelo Datafolha abrange toda a classe política, e reflete um sentimento amplo de inconformidade social que vem sendo "meticulosamente trabalhado" desde o julgamento do mensalão.
A avaliação foi feita à Folha pelo governador do Rio Grande do Sul, o petista Tarso Genro, ex-ministro da Educação e da Justiça durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Para Genro, o desgaste identificado por pesquisa Datafolha divulgada neste final de semana não atinge apenas a presidente, mas toda a política brasileira.
"Todas as pessoas que estão nos governos estão em uma tendência muito grande de queda. Há desgaste geral dos partidos, da esfera da política, dos governos", disse ele, que também vê setores da imprensa e da oposição capitalizando esse sentimento desde o julgamento do mensalão.
"Esse desgaste foi meticulosamente trabalhado nos últimos anos, particularmente a partir do julgamento do mensalão, que expôs o mundo da política em geral como um mundo opaco, sujo."
O levantamento do Datafolha indicou que a popularidade da presidente Dilma sofreu queda de 27 pontos nas últimas três semanas, período que coincide com a onda de manifestações pelo país.
Paia o governador gaúcho, a presidente terá condições de reverter o cenário.
"Essa inconformidade que surgiu com os protestos tem fatores objetivos e são justas. Há muito tempo os governos não prestam a atenção nas questões do transporte coletivo e da saúde pública nas grandes regiões metropolitanas", afirmou Genro, para quem o crescimento econômico trouxe à tona demandas sociais reprimidas.
"Essa omissão é de décadas. Com o crescimento dos setores médios, com o ingresso de milhões no mundo do trabalho, na educação, a situação ficou saturada. A saturação explodiu com a inconformidade".
SAÍDA PELA 'DEMOCRACIA DIRETA'
Genro defende a proposta de reforma política feita pela presidente Dilma como único meio de reverter o desgaste dos governantes e dos partidos -inclusive a ideia de Constituinte exclusiva, anunciada e depois descartada pelo Planalto.
"Um plebiscito, uma câmara constituinte para funcionar ao lado do Congresso e reformar os capítulos do direito eleitoral e os capítulos que tratam dos partidos políticos na Constituição. Isso é a forma de revitalizar a democracia brasileira, esse sistema que está aí está vencido."
Diante de protestos e episódios de vandalismo que também atingiram Porto Alegre, Genro diz reconhecer que ele também sai desse momento político com a imagem arranhada.
"Nossos adversários trabalharam muito oportunisticamente essa questão. Mas não me atemorizo com o desgaste. A esfera da política hoje no Brasil é maldita. Não é gratuito. É fruto de uma visão autoritária que, vez ou outra, volta no Brasil", disse.
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