Juiz adia julgamento de suspeito da morte de 5 sem-terra, mas manda prender fazendeiro
A Justiça de Minas Gerais determinou nesta quarta-feira (21) a prisão preventiva do fazendeiro Adriano Chafik e de outros três acusados de participar de uma chacina de sem-terra em Felisburgo (MG) em 2004. O julgamento dos quatro, no entanto, foi adiado pela terceira vez.
O fazendeiro é acusado de ser o mandante e outros três réus são os supostos pistoleiros. Cinco sem-terra morreram e outros 12 ficaram feridos.
Sem-terra protestam antes de julgamento de fazendeiro em Minas Gerais
Os cerca de 50 sem-terra que acompanhavam a audiência, iniciada às 10h28, aplaudiram a decisão do juiz, que acatou solicitação do Ministério Público. A data para o julgamento foi marcada para 10 de outubro.
A prisão ocorreu porque, segundo o Ministério Público, eventuais jurados e testemunhas estavam sendo ameaçados. Além disso, o juiz Glauco Fernandes, do Tribunal do Júri de Belo Horizonte, considerou que os advogados estavam fazendo manobras para retardar o julgamento.
O juiz disse ter "estranhado" a conduta do advogado Sérgio Habib, defensor de Chafik e do suposto pistoleiro Washington Silva, que solicitou adiamento do júri por causa de um tratamento de quimioterapia que faz.
O estranhamento ocorreu porque a doença maligna foi diagnosticada em novembro de 2012, Habib se aposentou por invalidez na defensoria pública da União em junho deste ano e, mesmo assim, assumiu o caso no mês passado.
Além disso, mesmo com uma doença grave, disse o magistrado, Habib assumiu um caso de outro Estado, sendo ele advogado inscrito na Bahia.
O juiz determinou que a seção baiana da OAB, onde ele está inscrito, seja oficiada a apurar o caso e indagá-lo se ele está ou não aposentado.
O juiz também entendeu como manobra o fato de o advogado Fabiano Florio, apenas nesta quarta-feira, ter dito que não tem procuração para cuidar da defesa de réus Francisco Rodrigues e Milton Souza.
O advogado disse perante o juiz que só tinha procuração para atuar no pedido de habeas corpus dos dois réus.
"Diante de vários cenários possíveis, aconteceu a melhor coisa", disse Ênio Bohnemberger, coordenador do MST em Minas, sobre a prisão dos réus.
Para ele, o juiz foi "coerente e sério" diante do que chamou de "circo armado pelos advogados". "Que o julgamento seja conduzido da mesma maneira", afirmou.
Em entrevista, o juiz Glauco Fernandes disse que irá deixar defensores públicos de prontidão no dia do julgamento para assumir a defesa de algum dos réus caso eles se apresentem sem advogados ou busquem novo adiamento.
Com Habib ausente do julgamento, o advogado Lúcio Adolfo --que foi o último defensor do goleiro Bruno Fernandes de Souza, ex-Flamengo-- apareceu no tribunal e foi aceito por Chafik para defendê-lo apenas no pedido de prisão preventiva feito pelo Ministério Público. Chafik disse ao juiz que continuaria tendo Habib como seu advogado.
O fazendeiro ficou preso até 2005, quando conseguiu um habeas corpus no STJ (Superior Tribunal de Justiça), em abril. Os supostos pistoleiros também foram beneficiados. O fazendeiro alegou que ele agiu em legítima defesa, depois de ter sido atacado pelos sem-terra.
Ligados ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), os trabalhadores rurais invadiram a fazenda de Chafik em Minas. A Justiça considerou o local como de terras devolutas do Estado. O MST alega que o fazendeiro quis descontar nos sem-terra e contratou 14 homens para atirar e atear fogo no acampamento.
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