Conselho de Ética da Câmara arquiva representação contra Bolsonaro
Em uma sessão que ganhou contornos de um ato de desagravo, o Conselho de Ética da Câmara arquivou nesta quarta-feira (30) uma representação do PSOL contra o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) por quebra de decoro parlamentar.
Ele era acusado de ter agredido com um soco o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) durante a visita de parlamentares e integrantes da Comissão da Verdade, em setembro, a um dos principais centros da repressão durante a ditadura militar no Rio. A confusão aconteceu em frente o 1º Batalhão da Polícia do Exército, onde funcionou o DOI-Codi, quando Bolsonaro foi barrado por parlamentares do PSOL.
Segundo os integrantes do conselho, a representação não tinha "justa causa" e houve apenas um desentendimento corriqueiro da atividade política. Ao todo, 11 parlamentares --o mínimo para ter minoria simples no colegiado, que tem 21 membros titulares-- compareceram à votação e defenderam a rejeição da denúncia. Três deputados fizeram discursos em defesa de Bolsonaro, tendo elogios ao governo militar.
Relator do processo, o deputado Sérgio Moraes (PTB-RS), primeiramente, apresentou seu parecer defendendo a admissibilidade da representação justificando que "não tinha a defesa dos dois lados". Após discursos de colegas, recuou e defendeu o arquivamento da acusação.
Ex-presidente do conselho, o deputado José Carlos Araújo (PSD-BA) puxou o arquivamento, defendendo que não existiam elementos para justificar a investigação de Bolsonaro. Para Araújo, não ficou provado que Bolsonaro deu um soco no senador nem "extrapolou" na ocasião.
"Fico pasmo que as pessoas queiram transformar um fato normal [em representação]. É um absurdo. Isto não deveria estar acontecendo aqui", disse. "É um fato para dar mídia. Não podemos dar esse luxo para fazer do Conselho de Ética palco para aparecer politicamente", completou.
O discurso mais inflamado foi do deputado Wladimir Costa (SDD-PA). Ele disse que Bolsonaro foi criado na caserna e é um homem diferente. Costa centrou ataques ao senador João Capiberibe (PSB-AP), que também estava na confusão com Randolfe durante a visita.
"Ele não tem condições morais. É um das fichas mais sujas da política. Aquilo é bandido", afirmou.
O deputado Lázaro Botelho (PP-TO) disse que todos os governos merecem "respeito" e defendeu o correligionário. "Eu acho que a falta de respeito foi com Bolsonaro. Ele foi proibido de entrar em sua caserna".
Depois das manifestações, o relator mudou seu parecer e argumentou que Bolsonaro não deveria ter sido impedido de acompanhar a visita porque uma deputada do PC do B também estava presente, portanto, não era um ato restrito do PSOL. "O que mais me surpreende é que os deputados do PSOL não estarem presentes, fazendo uma defesa".
Bolsonaro acompanhou toda a discussão. Chegou a exibir um vídeo com vários episódios polêmicos com parlamentares do PSOL e se disse perseguido. "Está mais do que provado que no caso não levou porrada nenhuma. É um cascateiro (Randolfe)", afirmou. "O PSOL me persegue o tempo todo. Não sei o que eles veem em mim, qual a tara deles?".
Bolsonaro ainda justificou que, se tivesse ficado do lado de fora do batalhão, teria sua integridade ameaçada pelos manifestantes. "Não sou integrante do PSOL para me sentir um rato".
O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) chegou ao conselho no meio da votação, quando não era mais possível discutir o caso. Ele pediu que numa próxima reunião o conselho abra espaço para o PSOL se defender das acusações.
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