Obra em homenagem às vítimas da ditadura militar é atacada em SP
Um grupo de vândalos destruiu parcialmente na madrugada deste domingo (3) uma instalação de arte que faz alusão aos aos desaparecidos da ditadura militar (1964-1985).
A obra "Penetrável Genet", de Celso Sim e Anna Ferrari, integra a 10ª Bienal de Arquitetura de São Paulo. Ela foi montada dentro do cemitério do Araçá, na zona oeste de São Paulo.
O ataque foi descoberto na manhã de hoje, dia em que a obra seria aberta para visitação. Os vândalos romperam dois cadeados e entraram no Ossário Geral, onde estão guardados os restos mortais de 1.046 pessoas encontrados no cemitério Dom Bosco, em Perus (zona norte da capital paulista), usado clandestinamente para enterrar presos políticos e comuns como indigentes.
Ali, derrubaram no chão dois monólitos de pedra de 700 kg cada um, que seriam usados para a projeção de filmes. Eles também romperam blocos de concreto e retiraram três sacos de ossos --que não faz parte dos encontrados em Perus-- e os espalharam pelo cemitério.
Apesar da presença de projetores e computadores, nada foi roubado. Ninguém reivindicou o ataque --foi deixada apenas uma pichação ilegível. Algumas estátuas e túmulos, que não faziam parte da instalação, também foram vandalizados. Uma imagem de santo Antônio, por exemplo, foi derrubada no chão.
"Foi contra a arte e contra o ser humano", disse o artista Celso Sim, coautor da obra, ao lado de Anna Ferrari. Os dois organizaram por volta do meio-dia um ato de protesto no local do ataque. Sim chamou o vandalismo de "crime político" e afirmou que "o prejuízo ético, moral e existencial é incalculável".
A instalação será aberta ao público apesar do ataque. Mesmo estilhaçados no chão, os dois monólitos receberão as projeções. A visitação pode ser feita de terça a domingo, com sessões gratuitas a cada hora, a partir das 12h e até as 16h, até meados de dezembro.
Na década de 1990, uma investigação mostrou que o local foi usado para enterrar dissidentes políticos e supostos indigentes. Para o secretário municipal de Direitos Humanos de São Paulo, Rogério Sottili, que esteve no cemitério ontem, "não contribui" especular sobre o que aconteceu.
Mas Sottili ressaltou que o ataque ocorreu entre um ato ecumênico realizado no local em homenagem às vítimas da ditadura, anteontem, e o dia da inauguração.
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