Cesare Battisti fará palestra em evento para 'excluídos' em universidade de SC
Condenado à prisão perpétua na Itália por quatro homicídios cometidos na década de 1970, Cesare Battisti participa nesta quarta-feira (6) em Florianópolis de um evento da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) destinado a "personagens que habitam a margem do mundo".
Ele será o principal palestrante do "Quem Tem Direito ao Dizer", organizado pelo PET Letras, um programa nacional gerenciado pelo Ministério da Educação (MEC).
"Nossa ideia é dar voz aos malditos, aos proscritos, aos excluídos, e o Cesare é um maldito por excelência. Ele é uma figura tatuada com o emblema da exclusão", disse o professor Fábio Lopes da Silva, tutor local do programa.
Na página oficial do evento Battisti é apresentado como "um escritor italiano que participou na juventude" do PAC (Proletários Armados pelo Comunismo) e que "sua atuação política é causa de perseguições até hoje".
Caio Guatelli-31.ago.11/Folhapress | ||
Cesare Battisti ministra palestra em universidade de Santa Catarina |
Battisti nega envolvimento nos assassinatos e diz ser vítima de perseguição política. Ele entrou ilegalmente no Brasil em 2004 e foi preso pela Polícia Federal no Rio de Janeiro três anos depois --atualmente mora em São Paulo.
Em 2009 recebeu do governo brasileiro o status de refugiado político, o que abriu uma crise diplomática com a Itália. Battisti foi mantido preso até 2011, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) validou a decisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de mantê-lo no país.
No Brasil, Battisti foi condenado a dois anos de prisão por uso de passaporte falso. Mas a pena foi revertida em prestação de serviços à comunidade e pagamento de dez salários mínimos a entidades de assistência social.
PROTESTOS
A participação de Battisti em um evento pago com verba federal tornou-se assunto no campus e provocou protesto de um pequeno grupo de professores.
Sérgio Colle, docente de engenharia mecânica e consultor do Ministério da Ciência e Tecnologia, fez críticas públicas à universidade por considerar a palestra do italiano "uma afronta à Justiça".
Segundo o comitê organizador, somente hospedagem e transporte serão pagos com verba da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis --ao todo R$ 900-- e que "a alimentação vai ficar por conta dele [de Battisti] mesmo".
A reitoria ainda não respondeu os pedidos de informação feitos pela Folha. O professor Fábio Lopes disse que a reação "faz parte do evento" e que "já era esperada", apesar de Battisti estar "perfeitamente legal no Brasil".
O "Quem Tem Direito ao Dizer" também terá palestra com mano Teko, presidente da Apafunk (Associação de Profissionais e Amigos do Funk), além de debates com líderes do MST e sobre obras de sobreviventes do campo de concentração de Auschwitz.
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