Advogado se diz 'tranquilo' e afirma que foi condenado por trabalhar para Valério
Condenado a cumprir pena em regime semiaberto, Rogério Tolentino, ex-advogado e ex-sócio de Marcos Valério Fernandes de Souza, disse estar "tranquilo" para começar a cumprir sua pena e que não tem do que se arrepender.
Para o ex-braço direito de Valério, sua condenação decorreu do fato de ele prestar serviços de advocacia para a SMPB, a agência de publicidade do operador do mensalão. Diz manter a "idoneidade moral" e que se afastou de Valério.
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"Sempre fui um cara tranquilo. Você tem que aceitar a realidade, não pode se revoltar. Eu já estive no início do mensalão [condenado] em regime fechado", disse Tolentino, absolvido da acusação de formação de quadrilha e condenado a seis anos e dois meses de prisão por lavagem de dinheiro e corrupção ativa.
Apesar disso, ele se diz "ressentido". Esse ressentimento, afirma, decorre do "engessamento" de sua vida nos últimos oito anos, desde a revelação do esquema. "Todo mundo foi envolvido no processo. Todo mundo foi criminalizado e você tem que ficar ressentido. A minha vida foi engessada", disse ele, que no fim do ano completará 40 anos de advocacia em Belo Horizonte.
PREÇO ALTO
Esse envolvimento lhe custou caro, já que Tolentino responde a vários outros processos decorrentes do inquérito principal do mensalão, em que ele aparece como tomador de um empréstimo de R$ 10 milhões no banco BMG que abasteceu o esquema.
"Hoje eu tenho alguns processos, mas é tudo fruto do mensalão. E o que o Marco Aurélio [Mello, ministro do STF] contou é que o único ato que o Tolentino fez foi tomar um empréstimo no BMG e dar três cheques, que foram parar na corretora Bônus-Banval. Por isso eu fui condenado na lavagem de dinheiro e na corrupção do PT", disse.
Alan Marques-27.set.05/Folhapress | ||
Rogério Lanza Tolentino, ex-sócio do empresário Marcos Valério, foi denunciado por sonegar rendimentos de quase R$ 7 milhões |
Tolentino insiste em dizer que o empréstimo foi pago e que "o Ministério Público não quer ver". "Não tenho que me arrepender de nada, não. Eu fui advogado de uma agência de publicidade que sempre teve um trabalho enorme, mas sempre, quando chega o momento político, esses caras fazem os banners [peças gráficas], empresas querem doar dinheiro. Isso existe."
"Modestamente, sou um cara que tem idoneidade moral em BH", disse ele, ao acrescentar que só foi pego porque um dos seus clientes tinha "coisas ilícitas". "Foi fácil me pegar", afirmou Tolentino, que diz não ter mais nenhum tipo de relação com Valério.
EXPECTATIVAS
"Passou um depósito na minha conta. Isso gerou um problema enorme na minha vida", afirmou ele, que vive ainda duas expectativas em relação a esse processo. Um é o cumprimento da pena em uma instituição para presos do regime semiaberto, que ele desconhece existir em Belo Horizonte.
Ele ficará preso na cidade, onde vive a sua família e onde ele terá também dará prosseguimento à sua vida profissional, mesmo tendo que ir dormir à noite na prisão. "Eu sempre estive à disposição das autoridades em Belo Horizonte para qualquer tipo de condenação", disse ele.
A outra expectativa é em relação aos embargos infringentes, um tipo de recurso no STF, em que sua defesa questiona o fato de ele ter sido apontado como o corruptor de três deputados do PP e, na fixação da pena, ter sido considerada uma lei atual, enquanto os políticos receberam a pena com base em uma lei anterior, mais branda, que vigorava na época.
RECURSOS
Em tese, Tolentino não tinha direito a apresentar embargos infringentes. Sua defesa nega manobra para adiar a execução penal e alega que o recurso é cabível porque a fixação da pena por corrupção ativa se deu com base no texto atual da lei, e não no texto anterior.
Esse tema, durante o julgamento do mensalão, suscitou discussão entre os ministros do STF. Cinco ministros foram favoráveis a Tolentino. Por causa desses cinco votos divergentes, segundo o advogado Paulo Sérgio Abreu e Silva, foi apresentado o recurso.
Esse embargo acabou sendo acatado pelo STF na sessão desta quarta-feira 13), embora sem ter tido o mérito analisado. Isso significa que Tolentino começará a cumprir sua pena apenas pelo crime de lavagem de dinheiro, em que foi condenado a três anos e dois meses.
Por se tratar de pena inferior a quatro anos, essa pena será em regime aberto, ou seja, ele poderá dormir em casa e terá algumas restrições impostas pela Justiça de execução penal.
Quando o STF definir a questão do crime de corrupção ativa (pena de três anos), as penas serão somadas e ele passará a cumpri-la em regime semiaberto, no qual terá que pernoitar na prisão.
Editoria de arte/Folhapress | ||
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