Kassab dá como certa candidatura de Meirelles; executivo diz estar indeciso
O ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles chegou com uma hora de atraso à sala vip de uma empresa de voos fretados. O jatinho e seu anfitrião, o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD), estavam à disposição desde 9h da manhã.
"Saí do Egito, passei em Paris, fiquei um dia e voltei. Fiz a barba, troquei de camisa e estou aqui", disse, mais como quem exibe o itinerário do que quem justifica a demora. Kassab e ele se cumprimentaram de modo protocolar.
A relação dos dois começou quando Kassab ainda era prefeito e Meirelles presidia uma fundação de projetos pela revitalização do centro de São Paulo. Embora convivam há anos, não exibem intimidade. Conversando, mais parecem sócios do que colegas.
Divulgação | ||
Meirelles (dir.), em jatinho rumo a Ribeirão Preto ao lado de Kassab |
Quando Kassab fundou seu partido, o PSD, Meirelles foi apresentado como uma das filiações mais valorosas.
Goiano, o ex-presidente do BC já havia feito outras incursões no universo político. Em 2002 ele se elegeu deputado federal pelo PSDB, mas não chegou a assumir o cargo. Foi fisgado pelo ex-presidente Lula com a proposta de comandar o Banco Central.
Agora, Kassab, que se lançou como pré-candidato ao governo do Estado, apresenta Meirelles como o nome de seu partido para o Senado. "Minha primeira oferta foi para ele concorrer a governador. Taxativo, disse não. Sobre o Senado, aceitou conversar", disse, ao lado de Meirelles, já a bordo do jatinho.
O principal projeto de Kassab é garantir uma bancada grande para o PSD na Câmara. O partido nasceu com 51 deputados. A aliados, ele estima eleger entre 45 e 60 parlamentares este ano.
É o número de deputados que define a fatia do fundo partidário que uma sigla recebe e o tempo de TV que ela dispõe na propaganda eleitoral. Dois ativos valiosos.
Hoje, o PSD tem quase dois minutos no horário eleitoral. O tempo de propaganda e a filiação de Meirelles fizeram com que Kassab passasse a ser procurado pelos principais atores na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes.
O prefeito, que deixou o cargo com a popularidade baixa e não elegeu seu sucessor, é assediado pelo PT, PSDB e PMDB.
Aliados do governador Geraldo Alckmin (PSDB) pregaram uma reaproximação com Kassab para que Meirelles pudesse ser vice na chapa tucana. O problema é que Alckmin e Kassab têm um passivo grande de desentendimentos. A desconfiança é mútua.
Paulo Skaf, do PMDB, é outro que tem conversado com o ex-prefeito. Existem diversas versões sobre o teor dessas negociações. A mais recente é de que Kassab poderia ser vice de Skaf –o que ele nega. Meirelles seria o candidato dos dois ao Senado.
O PT tem um candidato ao Senado, Eduardo Suplicy, com quem Lula teve algumas rusgas –Suplicy quis disputar uma prévia com o ex-presidente pela candidatura ao Planalto em 2002, o que foi considerado uma afronta.
"O que posso dizer é que o ex-presidente sempre me incentivou a atuar na política",desviou Meirelles.
Antes de se filiar ao PSD, Meirelles consultou o ex-presidente. Só após o aval, concluiu a negociação.
Enquanto não há definição, o ex-prefeito mantém Meirelles em evidência, negocia com os outros partidos, e infla no executivo a sensação de que ele pode tudo.
"No começo, muita gente no partido falava no Meirelles para candidato a presidente. Ele causa um impacto, inclusive na mídia. Se ele define por ser candidato, sairá com muita densidade política", disse o prefeito, já a bordo do jatinho.
A interlocutores, Kassab já disse que se Meirelles quisesse concorrer ao Bandeirantes, abriria mão da candidatura para ser apenas presidente do PSD.
Os dois falaram sobre suas expectativas e dúvidas para esta eleição durante uma viagem a Ribeirão Preto, acompanhada pela Folha. Eles têm dez visitas programadas às principais regiões do Estado.
Além do ex-prefeito e do ex-presidente do BC, estavam no avião o sindicalista Ricardo Patah, presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores), a ex-vice-prefeita de São Paulo, Alda Marco Antonio, e a mais nova aquisição do PSD de Kassab, o ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira, Cesário Ramalho.
"Essa é a chapa dos meus sonhos", disse o ex-prefeito. Alda seria sua vice e, com Meirelles candidato ao Senado, Patah seria o suplente. "O Cesário seria um ótimo ministro da Agricultura", completou, contemplando o quinto passageiro de seu voo. "Sou um ótimo caça-talentos."
Assim que o ex-prefeito terminou de exibir seus quadros, Meirelles o interrompeu: "Eu ainda não sei se quero ser candidato. Tenho uma série de responsabilidades no setor privado, orientações junto a governos de outros países. Preciso ver em que função posso contribuir mais".
Ele atua em uma série de negócios. Integra o conselho do terceiro maior banco de investimentos do mundo, foi contratado como consultor econômico pelos governos do Egito e de Abu Dhabi para auxiliá-los na recuperação da última grande crise econômica, e é presidente do conselho da holding que controla a JBS, maior empresa de carnes do mundo.
Quando desembarcaram, fazia cerca de 32 graus. Meirelles, precavido, estava com a pele do rosto um pouco esbranquiçada por causa da aplicação de filtro solar. Subiu no palanque, aos gritos de "aceita, aceita!" e disse estar emocionado.
Deixou de lado o "economiquês" e se apresentou como responsável pelas políticas que permitiram a ascensão social. Sobre o trabalho para conter a inflação, disse que era para "fazer o salário do trabalhador durar o mês inteiro". Terminou o discurso mandando um "beijo no coração" da plateia.
"Não sabe se é candidato mas está com um discurso bem palanqueirinho, né?", brincou Kassab.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade