Em entrevista a rádio, Gilmar Mendes diz que fala de Lula foi 'engraçada'
O ministro Gilmar Mendes, do STF, classificou como "engraçado" a declaração do ex-presidente Lula sobre o julgamento do mensalão.
Em entrevista a uma televisão portuguesa, divulgada no domingo (27), o petista avaliou que o julgamento do mensalão foi 80% político. "Como se enquadrar nesse percentual preciso de 80% e 20%. Está tudo muito engraçado", disse Mendes durante entrevista para a rádio "Jovem Pan" nesta segunda-feira (28).
"Esta conta, que também é muito singular. Julgamento político em 80%, 20% jurídico. Como ele não é da área jurídica, talvez também ele esteja adotando um outro critério. Porque nós não sabemos fazer esse tipo de contabilidade no âmbito do tribunal", declarou o ministro do STF. "Quais foram os votos que foram políticos e quais foram estritamente jurídicos?"
Mendes lembrou ainda de uma fala de Lula durante a crise do mensalão. "Nós não podemos esquecer que o presidente já pediu desculpas à nação pelo fato da existência da prática do mensalão. Agora, ele já disse outras vezes que o mensalão não existiu, que o mensalão foi parcial.".
O ministro afirmou ainda que o STF é "insuspeito" no julgamento porque a maior parte dos ministros foi indicada por governos do PT e disse que é inaceitável classificar o julgamento como político.
'TROÇO DE DOIDO'
Gilmar Mendes não foi o primeiro ministro do STF a rebater as declarações de Lula. Também nesta segunda-feira, Marco Aurélio Mello criticou a fala do petista. "Não sei como ele tarifou, como fez essa medição. Qual aparelho permite isso? É um troço de doido", disse.
Para Marco Aurélio, o ex-presidente exerceu o seu "sagrado direito de espernear". Ele espera, porém, que a tese defendida por Lula não ganhe ressonância na sociedade.
"Só espero que esse distanciamento da realidade não se torne admissível pela sociedade. Na dosimetria [tamanho das penas] pode até se discutir alguma coisa, agora a culpabilidade não. A culpa foi demonstrada pelo Estado acusador", disse.
Além disso, o ministro ainda lembrou que, no final da primeira fase do mensalão a composição do STF era majoritariamente formada por ministros indicados por Lula. Por isso, em sua avaliação, as críticas do ex-presidente não fecham.
"Ele repete algo que não fecha. No final do julgamento eram só três ministros não indicados por ele. A nomeação [de ministros] é técnico-política e se demonstrou institucional. Como eu sempre digo, não se agradece com a toga".
A Folha também ouviu outros três ministros que, reservadamente, concordaram com Mello no que diz respeito ao "direito de espernear". Eles lembraram que a suprema corte americana também recebe críticas de políticos e avaliaram que esta não é primeira nem deverá ser a última vez que Lula irá reclamar do julgamento do mensalão.
Além disso, há avaliações entre os ministros que o ex-presidente pode estar buscando um discurso político para defender seu partido do mensalão devido às eleições que se aproximam.
REPERCUSSÃO
Nome do PSDB para o Planalto, o senador Aécio Neves (MG) também criticou nesta segunda declaração dada por Lula a uma rede de TV portuguesa sobre o julgamento do mensalão. O tucano disse que ao criticar o STF, o ex-presidente Lula "não faz bem à democracia" nem "honra a história de um homem que foi presidente da República".
"Essa declaração não engrandece o currículo do ex-presidente. Pela importância do cargo que ocupou, ele deveria ser ele o primeiro a zelar pelo respeito às nossas instituições. Foi uma declaração infeliz", concluiu Aécio.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem o direito de criticar a condenação de petistas no processo do mensalão. Mas ressaltou que a "ação penal está encerrada".
"A ação penal 470, que tramitou perante a corte mais alta do país, está encerrada, com o julgamento claro, objetivo, transparente, respeitado o contraditório e o amplo direito de defesa", disse Janot, em visita a uma escola pública no Rio, como parte do programa de visitas do Ministério Público a unidades de ensino do país.
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