Motorista que fez greve teve aumento acima da inflação
Motoristas e cobradores de ônibus de nove capitais e o ABC paulista, entre elas cidades afetadas por greves nas últimas semanas, conseguiram reajustes salariais acima da inflação acumulada nos últimos seis anos.
Em algumas cidades, como a capital paulista –onde grevistas rasgaram pneus e atravessaram veículos nas vias, paralisando a cidade– o aumento real que chegou ao bolso da categoria é quase o dobro do que receberam, em média, os trabalhadores de outros 600 sindicatos.
Os dados fazem parte de levantamento feito pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos), a pedido da Folha, ou coletados dos sindicatos.
O levantamento considera a inflação medida pelo INPC (do IBGE), o indicador mais usado nos acordos salariais.
Neste ano, os motoristas de São Paulo conseguiram 10% de reajuste ante inflação de 5,8% –ou 4% de aumento real. Com isso, o piso de um motorista foi para R$ 2.079 –R$ 124 a mais do que em 2013. O do cobrador subiu R$ 40.
Mesmo aprovado em assembleia, o acordo gerou revolta. Um grupo dissidente iniciou uma paralisação que durou dois dias e deixou milhares sem transporte.
"É um absurdo o motorista de ônibus da maior cidade do país ganhar essa miséria", diz Luís Pereira Lima, motorista que aderiu à greve.
No Rio, onde também ocorreram paralisações radicais promovidas por dissidentes, o aumento deste ano foi igualmente significativo: 4,4% acima do INPC. De 2009 a 2014, o ganho real dos motoristas cariocas foi o maior na comparação entre as nove capitais e o ABC –alta de 24,6%.
O menor ganho real entre as cidades pesquisadas foi de 1,3%, em Manaus, onde não houve greve. Na média, o ganho acumulado no período nas regiões foi de 10,2%.
Somente em três cidades, em anos diferentes, os acordos salariais ficaram abaixo da a inflação: Manaus, São Luís e Florianópolis.
"O que ocorre com os motoristas deve acontecer com várias categorias com data-base em maio e junho. Os trabalhadores estão de olho na Copa e eleições para ampliar suas conquistas", diz o economista José Silvestre Prado de Oliveira, coordenador de relações sindicais do Dieese.
Na última Copa e na Olimpíada de Londres, uma onda de paralisações também afetou o transporte público.
Colaboraram PEDRO SOARES, do Rio, e Agência Folha
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