Jornalista é detida no Rio por filmar prisão de torcedor argentino
A repórter do jornal "O Globo" Vera Araújo foi detida, no final da tarde deste domingo (15), quando tentava filmar uma ação de policiais militares nos arredores do Maracanã, na zona norte do Rio. O episódio aconteceu antes do jogo entre Argentina e Bósnia no estádio.
Os PMs deram voz de prisão à jornalista após ela fazer imagens de um torcedor argentino sendo detido sob acusação de urinar na rua. Segundo Araújo, o segundo sargento Edmundo Faria, que usava uma identificação do grupamento responsável pela segurança na Copa, teria se irritado com a filmagem e ordenou que ela desligasse o equipamento.
A repórter se recusou a fazê-lo e se identificou mostrando seu crachá profissional, mas o sargento insistiu para que Araújo parasse de gravar e quis prendê-la "por desacato à autoridade" – a jornalista nega ter desacatado os policiais.
Depois de colocar a jornalista na viatura, os policiais percorreram ruas dos bairros de Benfica, São Cristóvão e Jacaré, na zona norte. Além dela e do argentino detido, estavam na viatura o sargento Faria, um cabo e um soldado, na direção.
"Foram quase duas horas até chegar à delegacia. No meio do caminho consegui contato com a assessoria de imprensa da PM, com o tenente-coronel Cláudio Costa [relações públicas da polícia], que pediu para falar com o sargento pelo meu celular, mas, quando passei o aparelho para o policial ele teve um surto, uma explosão, e o arremessou contra o painel do carro, mandou parar o veículo e me algemou com as mãos para trás. Parecia cárcere privado, parecia ditadura", lamentou a jornalista em entrevista à Folha, na manhã desta segunda-feira.
Vera Araújo disse que ficou com os pulsos machucados porque o sargento apertou muito as algemas. Ela afirmou que sofreu pressão psicológica e agressão verbal do sargento Faria. "Ele me chamou de jornalista de merda. Disse gritando que eu queria sensacionalismo. Me desrespeitou. Estava totalmente destemperado, alterado, sem preparo para lidar com a situação", disse a jornalista.
Encaminhada à 17ª DP (São Cristóvão), a repórter registrou o caso como "abuso de autoridade" e realizou exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML), em São Cristóvão.
"Quando cheguei à delegacia, a assessora de imprensa da PM mandou me soltar. Eles falaram que, se eu registrasse o caso como abuso de autoridade, os policiais registrariam o desacato. Não pude permitir que isso passasse em branco, por nós, jornalistas. Agora, sou vítima e réu", afirmou.
Em nota, a PM informou que, assim que o comando da corporação soube do caso, solicitou que os comandantes do 4º Batalhão (São Cristóvão) e do Batalhão de Campanha fossem para a delegacia de São Cristóvão. A polícia diz ter aberto um procedimento para investigar a ocorrência e afirmou que, após prestar esclarecimentos na delegacia, o sargento Faria foi preso administrativamente no Batalhão de Campanha, onde trabalha.
Ele permanecerá detido até a conclusão da investigação.
"O comando da Polícia Militar ressalta seu respeito e admiração pela jornalista e reitera que considera o trabalho da imprensa fundamental para a garantia da democracia. É repudiada toda forma de violência ou postura inadequada por parte de policiais contra qualquer cidadão", disse a corporação, em nota.
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