Auditoria vê erros em contrato da Petrobras
O ex-diretor da Petrobras Jorge Zelada conduziu licitação de sonda de perfuração de poço de petróleo no valor de US$ 1,8 bilhão atropelando ritual interno de contratação exigido pela empresa, mostra relatório produzido por comissão da estatal.
O documento, ao qual a Folha teve acesso, revela ainda que a promessa do vencedor de entregar a sonda mais rapidamente, justificativa de Zelada para negociação direta, foi abandonada antes de assinado o contrato.
Zelada dirigia a área internacional e deixou a empresa em 2012, depois de Graça Foster assumir a presidência. Sua permanência no cargo sempre foi atribuída à influência do PMDB na empresa.
Segundo o relatório, o início da contratação, em 2008, foi autorizado por Zelada, quando deveria ter sido por toda a diretoria.
A comissão de licitação analisou oito propostas em outubro de 2008, considerando a da concorrente Pride a melhor. O ex-diretor teria, então, mandado incluir mais empresas no processo, entre elas a Vantage. Neste momento, um subordinado dele assumiu a negociação.
A Vantage ofereceu duas sondas mais caras do que a Pride –US$ 560 mil por dia, contra US$ 540 mil da Pride– mas prometeu entregar cinco meses antes. Zelada, então, "em função dos prazos de entrega, afirmou ser conveniente verificar junto à Vantage a melhor oferta".
A Vantage ofereceu, uma semana depois, um preço abaixo do da Pride. No dia 15, quando a Petrobras estava prestes a assinar um memorando de entendimento, a Vantage propôs entregar a sonda em dezembro, e não mais em julho de 2011.
A comissão viu outras irregularidades –encerramento da comissão de licitação antes do fim do processo, não elaboração de um relatório final de contratação e envio de propostas ao email pessoal do diretor. O relatório conclui que não houve prejuízo à empresa, mas que a contratação "deixou de observar as boas práticas da Petrobras".
Procurada, a Petrobras não comentou. A Vantage não respondeu ao e-mail enviado à sede da empresa em Houston (Texas). O escritório da Pride no Rio encaminhou a reportagem à sede, em Macaé, onde ninguém atendeu às ligações.
Zelada disse que só vai comentar o caso ao ler o relatório, depois de voltar de viagem ao exterior. Afirmou que, "por base", seguiu "rigorosamente os preceitos de governança da companhia".
A comissão foi criada para investigar denúncias atribuídas a João Augusto Henriques, publicadas pela revista "Época" em agosto de 2013.
Segundo a reportagem, Henriques afirmou ter intermediado uma série de negócios na área internacional da Petrobras, pelo que cobrava comissões, entre eles um contrato com a Odebrecht para serviços de meio ambiente e segurança em nove países.
O Ministério Público denunciou Zelada, Henriques, seis funcionários e ex-funcionários da Petrobras e um executivo da Odebrecht, por fraude em licitação. A denúncia virou processo. Procurada, a Odebrecht não comentou.
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