Informe do Santander reproduziu relatório de outra instituição
O informe econômico do Santander que criou uma saia justa com o governo Dilma Rousseff, irritou o PT e provocou a demissão de quatro funcionários do banco, reproduziu frases inteiras do relatório de um outro banco, o Fator, que já circulava no mercado há mais de um mês.
O texto produzido pelo Fator no dia 3 de junho é do economista Paulo Gala, professor da FGV. A análise do Santander ficou pronta mais de um mês depois.
Questionado pela Folha, Gala não quis dizer se considerava ter sofrido plágio e se recusou a comentar o assunto. A semelhança entre os textos foi apontada nesta quinta (7) pelo Valor PRO, serviço em tempo real do Valor.
Enviado no final de julho aos clientes vips do Santander, o texto tratava a reeleição de Dilma como uma ameaça à economia. Os pontos mais críticos eram quase iguais aos publicados pelo Fator.
"A quebra de confiança e o pessimismo crescente em relação ao Brasil em derrubar ainda mais a popularidade da presidente, que vem caindo nas últimas pesquisas", dizia o texto do Santander.
O texto do Fator destacava: "A quebra de confiança e pessimismo crescente em relação ao Brasil pode derrubar ainda mais a popularidade da presidente nas pesquisas".
Noutro ponto, o informe do Santander dizia: "Se a presidente se estabilizar ou voltar a subir nas pesquisas, um cenário de reversão pode surgir". O texto do Fator era: "Se Dilma se estabilizar ou voltar a subir nas pesquisas um cenário de reversão pode surgir".
Diferente da análise do Santander, a do Fator, com conteúdo semelhante ao que vários outros bancos distribuíram no mercado, não chamou a atenção.
Assim que o texto do Santander veio a público, Dilma classificou o episódio de "lamentável" e "inadmissível". O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a responsável pelo texto não entendia nada de Brasil e deveria ser demitida e o PT falou em terrorismo eleitoral.
O Santander veio a público afirmar que o texto não refletia a opinião do banco e pediu desculpas.
Na sequência, demitiu quatro funcionários, como informou a Folha: a gerente de investimentos, que escreveu o polêmico informe, além de dois colegas e a superintendente da área, que aprovaram o texto.
Eram todos da área Select, voltada para clientes com renda mensal acima de R$ 10 mil. A Folha não conseguiu contato com eles.
No mercado financeiro, ficou a impressão de que o Santander cedeu às pressões e mandou os funcionários embora na tentativa de agradar Dilma e o PT. O banco nega.
Marcos Madureira, um dos vice-presidentes do Santander, afirma que o banco "não recebeu, nem aceitaria qualquer tipo de pressão" e que a equipe foi demitida por desobedecer o código de conduta da instituição –que proíbe os funcionários de fazer manifestações políticas ou partidárias em nome do banco.
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