Dilma diz que Brasil tem direito à verdade sobre crimes e nega revanchismo
Após 2 anos e sete meses de atividades, a Comissão Nacional da Verdade entregou nesta quarta-feira à presidente Dilma Rousseff seu relatório sobre os crimes cometidos de 1946 a 1988, mas principalmente no período da ditadura militar. A cerimônia acontece no Dia Mundial dos Direitos Humanos.
O relatório entregue a Dilma aponta cerca de 300 militares e agentes que trabalharam para a repressão como responsáveis por assassinatos, desaparecimentos, torturas e outras violações dos direitos humanos durante a ditadura militar. Entre os responsáveis devem figurar inclusive ex-presidentes da República que comandaram o país no período.
Dilma chorou na entrega da relatório da comissão e disse que todos têm o direito à verdade. "A busca da verdade é forma de construir democracia."
O trabalho dessa comissão demonstrou a importância do conhecimento desse período para não mais se repetir. Devemos isso não só à minha geração, que sofreu as consequências, mas para a maioria dos brasileiros, nascida depois, que não teve acesso à verdade histórica. Conhecimento é imprescindível."
Num recado aos militares, a presidente afirmou que a divulgação desse relatório não se trata de revanchismo. "Não é revanchismo, ódio ou acerto de contas."
Segundo ela, será possível saber o local onde foram enterrados corpos de muitas pessoas. "Fazer com que agora muito possa ser dito e explicado."
CERIMÔNIA
Diferentemente do lançamento da comissão, em 2012, quando Dilma reuniu todos os presidentes pós-democratização (com exceção de Itamar Franco, já morto), a entrega do relatório nesta quarta foi mais comedida –para não mais que 50 convidados.
Segundo a Folha apurou, os convidados serão parentes das vítimas do regime, como Ivo Herzog, filho do jornalista Vladimir Herzog (1937-75) e Vera Paiva, filha do deputado Rubens Paiva (1929-71).
Com o foco em outros problemas do governo, ficou em segundo plano o planejamento de uma grande cerimônia. Quando auxiliares de Dilma se deram conta que não havia nada programado, resolveram fazer um evento discreto. A ideia é que ela faça um discurso mais simples sem, contudo, reduzir o valor histórico do relatório final.
Para o Planalto, o documento apresentado nesta quarta é fruto de muita divergência no âmbito da própria comissão. Houve um momento em que o Planalto chegou a duvidar que um relatório consensual fosse possível devido a brigas internas.
NOVOS CASOS
Na véspera de publicar seu relatório final, a Comissão Nacional da Verdade informou nesta terça-feira (9) ter concluído que dois homens tidos até agora como desaparecidos foram de fato mortos pela ditadura militar (1964-85).
Além disso, foram anunciadas novas pistas sobre um dos casos mais notórios de desaparecimento durante o regime –o de Stuart Angel, filho da estilista Zuzu Angel. As novidades surgem após 31 meses de trabalho, durante os quais o grupo havia identificado a morte de apenas um outro desaparecido.
O primeiro novo caso apresentado ontem é o de Joel Vasconcelos Santos, militante do PC do B, desaparecido em março de 1971. Por meio de um laudo, terminado na segunda (8), a comissão concluiu que as digitais de Santos coincidem com as de um homem que deu entrada no IML do Rio de Janeiro no mesmo dia da prisão de Santos.
O segundo novo caso é de Paulo Torres Gonçalves, que não era militante político e desapareceu em março de 1969, antes ir para o colégio.
Sobre Stuart Angel (membro do MR-8 e sequestrado em maio de 1971), a comissão acredita ter se aproximado da localização de seu corpo.
Seguindo depoimentos de militares sobre a prisão de Angel na Base Aérea de Santa Cruz, no Rio, a comissão achou uma imagem de 1976 na qual há um crânio supostamente encontrado num canteiro de obras no centro do Rio, mas da mesma empresa que fez uma reforma na Base Aérea. Uma possibilidade é que o corpo tenha sido levado de um local ao outro.
Uma análise cranofacial feita por um perito inglês indicou uma "clara correspondência morfológica" entre o crânio da imagem e o rosto de Angel.
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